Este número da Conexão Letras se ocupa da memória e do esquecimento, com toda a amplitude que o tema pode evocar. Os artigos e resenhas desse número debatem temáticas como narrativa memorialística, memória individual e coletiva, usos políticos do passado, usos do esquecimento, políticas da memória, arquivo, entre outros.
Este artigo busca investigar de que maneira o alienismo brasileiro se constitui em estreita relação com as teorias raciais, com a memória antiafricana e com novas formas de organização do direito e do espaço urbano no século XIX. Ancorado teoricamente na Análise de Discurso materialista, o texto busca dar visibilidade aos processos históricos da produção do sentido, montando um arquivo que permita escutar a conjuntura discursiva do Brasil oitocentista. O presente estudo permite, pois, uma compreensão semântica das contradições e das relações de sentido a partir da montagem e da leitura de um arquivo singular, que abre espaço para a formulação de um dispositivo distinto do historiográfico, pondo em primeiro plano o funcionamento material, ou seja, histórico, da língua.
Busca-se neste trabalho, a partir da leitura de um conjunto heterogêneo de documentos, compreender a relação entre o poder político baiano e os africanos escravos e libertos na Bahia do século XIX. O recorte temporal que nos interessa é, sobretudo, o período entre 1824 (ano de outorga da primeira Constituição brasileira) e 1835, quando a “revolta dos Malês” se institui como argumento categórico à composição de um corpo legal ostensivo e intolerante com a presença africana na Província da Bahia e, de modo geral, no resto do Brasil. Nessa conjuntura, os sentidos de “africano” funcionam fora do puro campo da evidência toponímica, dando visibilidade a uma rede de discursividades que se atravessam e determinam os sentidos de “nação”, “Império”, “cidadão” e “brasileiro”. Assim, os sentidos de “africano” entram no campo do litígio, desorganizando/reorganizando o discurso jurídico dos oitocentos e dando, ao mesmo tempo, visibilidade às contradições e limites políticos da formação social baiana diante de uma alteridade inegociável e insuportável face ao projeto nacional e modernizador no Brasil.
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