Os anos compreendidos entre 1935 e 1938, quando Lévi-Strauss é professor na recém-criada Universidade de São Paulo, não parecem ter despertado a atenção dos intérpretes e historiadores das ciências sociais durante longo período. É, de fato, a partir da década de 80 que se observa uma espécie de resgate dessa história até então "esquecida". A morte de Fernand Braudel e a volta de Claude Lévi-Strauss ao Brasil, integrando a comitiva do presidente Mitterrand, em 1985, são responsáveis por uma série de artigos, no Brasil e na França, articulando os dois personagens e tantos outros que integraram a missão francesa em São Paulo, na década de 30: Pierre Monbeig, Jean Maugüé, Paul Arbousse-Bastide, Roger Bastide etc. Desde então, não foram poucas as publicações, eventos comemorativos, depoimentos e ensaios que assinalaram a importân-cia do Brasil na trajetória e na obra desses (outrora) jovens que se iniciaram profissionalmente em solo brasileiro por meio de aulas e pesquisas 1 .Sem pretender retomar nos limites deste artigo a história da missão francesa convidada a inaugurar as atividades universitárias em São Paulo, o meu interesse aqui é iluminar o período brasileiro de Lévi-Strauss e mostrar como apesar de breve e, de modo geral silenciado, ele foi fundamental para os desdobramentos de sua futura carreira como etnólogo 2 . A idéia básica é compreender o lugar do Brasil nesse itinerário específico. Mas não só. De modo a ampliar a reflexão, destacarei alguns aspectos para que possamos avaliar o significado da vinda de Lévi-Strauss ao Brasil no contexto francês da época, em uma tentativa de leitura da viagem pelos olhos do viajante. Finalmente, a retomada da cena universitária paulista em seus primórdios, através de Lévi-Strauss, oferece pistas interessantes para pensarmos os contornos assumidos pelas ciências sociais em geral, e pela antropologia em particular, na Universidade de São Paulo.