O artigo analisa os modos pelos quais jovens “egressas” de serviços de acolhimento institucional (abrigos, casas-lares) inventam novas possibilidades de vida, sob condições que a princípio reforçariam sua vulnerabilidade e falta de potência. A análise tem como base a etnografia realizada sobre as experiências de desinstitucionalização de jovens de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul entre 2010 e 2013. As experiências de desinstitucionalização dessas jovens poderiam ser pensadas a partir das lacunas deixadas pelas políticas de proteção após o desacolhimento. No entanto, por mais que essas experiências sejam marcadas por “uma espécie de improvisação contínua”, tal dinâmica revela mais do que uma simples “tática de sobrevivência”. Assim, a proposta é pensar esses modos de vida com base na chave analítica da invenção (Roy Wagner). Dentre as vias para a invenção, destacam-se o cuidado com os filhos, as maneiras como subvertem os modos de ação das políticas assistenciais e a descoberta do que sabem e gostam de fazer.
Trata-se de uma proposta de análise das experiências de crianças em situação de refúgio no Brasil, a partir da articulação teórico-metodológica entre tecnologias de governo, modos de subjetivação e migração internacional. Problematizo as maneiras pelas quais essas crianças se constroem como sujeitos, a partir dos modos como operam as tecnologias de governo voltadas aos refugiados no país, sobretudo a tensão entre proteção à infância e gerenciamento das migrações. Enquanto menores em perigo, são antes de tudo as normas legais ligadas à proteção da infância que deveriam prevalecer. No entanto, por vezes, a condição de estrangeiro é privilegiada e essas crianças são submetidas estritamente às políticas de migração destinadas, em geral, aos adultos. Diante de tal cenário, procuro destacar o potencial das experiências dessas crianças para revelar o que nem sempre é objeto de atenção nos estudos sobre migração. Busco refletir sobre os direitos e a proteção de crianças em deslocamento e também sobre os “sujeitos desses direitos” e seu “protagonismo social” nos modos de gerenciamento da chamada crise migratória. Proponho pensar como a situação de crianças refugiadas no Brasil também nos interpela de maneira paradoxal: entre o desejo de proteção e a tentação da rejeição
Résumé Il s’agit des résultats d’une recherche ethnographique menée entre 2015 et 2017 à propos des modes par lesquels les « jeunes majeurs » d’une association éducative parisienne se construisent en tant que sujets. Dans un contexte de contractualisation des politiques de protection françaises, je me suis intéressée aux expériences des jeunes de cette association vis-à-vis du Contrat jeune majeur (CJM), qui est une technologie de gouvernement pour faire face aux effets de la réduction de la majorité depuis 1974, ainsi qu’aux lacunes qu’elle a créées en matière de protection et d’assistance aux jeunes entre 18 et 21 ans qui sont en difficultés d’intégration sociale. L’article fait état d’un chevauchement des questions économiques sur celles d’ordre éducatif de telle sorte que les jeunes qui ont ce contrat ne sont pas ceux qui se trouvent en difficultés d’intégration, mais ceux qui ont un « projet de vie consistant ».
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