2017; 21(60):189-98 189 COMUNICAÇÃO SAÚDE EDUCAÇÃOEste texto é fruto de uma dissertação de mestrado, e tem como objetivo relatar a experiência de desconstrução de um hospital psiquiátrico, ocorrida em 2005, numa cidade do interior nordestino, a partir de uma intervenção decretada pela justiça federal a pedido do Ministério da Saúde. O hospital em questão não apresentava condições mínimas de funcionamento e não passara nas avaliações realizadas pelo Programa Nacional de Avaliação do Sistema Hospitalar. Houve uma articulação importante entre o Ministério da Saúde, a prefeitura, a advocacia geral da União e a justiça federal para que essa intervenção transformasse as condições dos internos que lá estavam. Embora a intervenção devesse durar até que a situação melhorasse, foi uma opção operar, durante o processo, a desconstrução do hospital e a implantação de uma rede de serviços territoriais e comunitários de saúde mental, composta por Centros de Atenção Psicossocial, residências terapêuticas e serviço de emergência psiquiátrica em hospital geral. O relato trará as sensações, percepções e reflexões do autor, que exerceu o papel de interventor, expressas em diários de campo elaborados durante a experiência. O relato de experiências de desinstitucionalização pode contribuir para estimular gestores e trabalhadores das políticas públicas na busca por mais ações nesse campo, uma vez que existem, ainda, muitos moradores em hospitais psiquiátricos. Além disso, contribui para que os leitores tenham uma vivência mais próxima do cotidiano dos hospitais psiquiátricos, de suas entranhas, suas relações de poder e saber, sua correspondência com o paradigma biomédico clássico da psiquiatria, que dialoga, sobretudo, com abstratas entidades mórbidas, e não com os sujeitos em sua historicidade, produzindo, como efeitos, corpos mortificados e subjetividades anuladas.O relato a seguir reúne uma série de fragmentos apresentados de forma não linear, utilizando-se de intertítulos que não possuem uma relação de hierarquia entre si, mas que tentam transferir, ao leitor, as sensações vividas pelo autor.Sigamos ao relato. Segurança!Um panopticum 1 um pouco desfocado e com muitos tentáculos; uma organização que tenta controlar os movimentos, mas que não vigia de perto, espaço aberto
Resumo: Este artigo problematiza a questão dos projetos terapêuticos singulares no âmbito dos serviços de saúde mental construídos no processo de reforma psiquiátrica brasileira. Partindo das concepções que foram ganhando força tanto no campo da reforma psiquiátrica como no da saúde coletiva, problematiza que a noção de projeto terapêutico ainda sofre influências de paradigmas biológicos, psicológicos ou sociais que simplificam a complexidade da experiência dos sujeitos que sofrem. Apesar de os projetos terapêuticos representarem uma conquista fundamental para a qualificação do cuidado em saúde mental, ainda se faz necessário produzir uma ruptura epistemológica na relação com o sofrimento psíquico, para que eles possam atingir maior potencial de transformação. Desta forma, o artigo propõe que a prática dos projetos terapêuticos dialogue com a realidade concreta de vida dos usuários e suas relações nos territórios de existência, de forma a transformar as relações de poder e de saber que reproduzem a anulação dos sujeitos. Agindo desta forma, é possível dialogar com a complexidade da experiência do sofrimento psíquico, produzindo transformações nas cenas que o produzem.Abstract: This article discusses the issue of singular therapeutic projects within the mental health services built in the Brazilian psychiatric reform process. Starting from the concepts that have gained strength in both the psychiatric reform as in the collective health, this study proposes that current notions of therapeutic project still are influenced by biological, psychological or social paradigms that simplify the complexity of the experience suffered by the subjects. Despite therapeutic projects are an essential achievement for the qualification of mental health care, it is still necessary to produce a epistemological rupture in the relationship with mental suffering, so that they can achieve the greatest potential for transformation. Therefore, the article suggests that the practice of therapeutic projects should hold discussions with the reality of users life of and their relationships in the territories of existence, in order to transform the relations of power and knowledge that reproduce the subjects annulment. Thus, it is possible to dialogue with the complexity of the mental suffering experience, producing changes in the scenes that produces it.
IntroduçãoA educação permanente no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) tem se colocado como um dos principais instrumentos para se alcançar a qualidade e a resolubilidade no cuidado em saúde. Transitando entre a construção e disseminação de tecnologias leve-duras e leves 1 , esses processos de qualificação têm sido muitas vezes avaliados de forma crítica por gestores, profissionais da rede e educadores, pois estes questionam se as versões mais conteudistas deixam de produzir transformações potentes nos atores envolvidos e em seus processos de trabalho. Ceccim e Feuerwerker 2 defendem um desenho a partir do quadrilátero da formação para a área da saúde: ensino, gestão, atenção e controle social, ao mesmo tempo em que anunciam os desafios longínquos de tomá-los como direcionamento possível no âmbito dos serviços de saúde em função das demandas cotidianas ao trabalhador.Observa-se, desde a promulgação do Decreto nº 7.508/11 -que dispôs sobre a organização do SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa 3 -duas novas orientações para as práticas de saúde: a região e a Rede de Atenção à Saúde (RAS) e, nesse contexto, também a necessidade de viabilizar práticas pedagógicas que facilitem o aprendizado no universo do trabalho e que respeitem as singularidades dos municípios 4 .Compreende-se, então, a importância de promover espaços de formação que permitam ao trabalhador avançar na construção de conhecimento por meio da experimentação e da transformação da prática cotidiana.Na área da saúde mental, desde os anos 2000, tem se intensificado os investimentos em educação permanente por meio de cursos ou do financiamento de supervisões clínico-institucionais, com o intuito de acompanhar e apoiar os trabalhadores na reflexão e na produção de sentido sobre a própria prática 5 .Segundo o Ministério da Saúde 5 , as diferentes ações de formação e educação permanente no período de 2011-2015 tiveram entre seus objetivos a viabilização de um projeto de formação de trabalhadores para a consolidação do modelo de atenção em saúde mental territorial, a partir da troca, da reciprocidade e da integração entre diferentes núcleos de conhecimento em diferentes pontos da rede de atenção psicossocial. espaço aberto
RESUMO: Este artigo traz uma reflexão sobre o lugar que o hospital psiquiátrico ocupa na atualidade. Partindo da experiência de desconstrução de um hospital psiquiátrico em Campina Grande, Paraíba, no ano de 2005, discute que o manicômio atual funciona nem tanto a partir de uma lógica disciplinar, que acompanhou durante anos o desenvolvimento do asilo, mas de uma nova lógica do abandono, em sintonia com as novas formas de desregulamentação que caracterizam os novos padrões de sociabilidade dos tempos atuais. O abandono surge como um método de controle das instituições segregadoras que funciona em sintonia com as novas formas capilares e desregulamentadas de controle. Por fim, discute-se a necessidade de um pensar crítico sobre a forma de sociabilidade da modernidade, como um passo importante para a desconstrução do paradigma psiquiátrico. DESCRITORES: Desinstitucionalização; Reforma dos serviços de saúde; Unidade hospitalar de psiquiatria. * Este trabalho faz parte de uma dissertação de mestrado em ciências sociais, defendida na PUC-SP em 2007.
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