Este artigo pretende problematizar as abordagens vigentes sobre a gênese da medicina tropical no Brasil, pondo em cena atores, conceitos e pr áticas médicas do período oitocentista, geralmente percebidos como antagônicos ao processo de institucionalização desse campo disciplinar. É nosso objetivo rever a rígida demarcação entre dois períodos - pré-científico e científico - no desenvolvimento da cultura médica no período imperial.
Discute-se, aqui, a gênese do modelo de educação médica proposto por A. Flexner nos Estados Unidos, comparando-o com a proposta de aplicação do modelo universitário germânico à educação médica brasileira, na década de 1930, por Antonio da Silva Mello. Argumentamos que o núcleo das reformas médicas - que almejavam a introdução do ensino da biomedicina e a valorização da carreira científica - não dependia somente da perfeita compreensão, por parte dos dois reformadores, dos fundamentos do novo modelo. Cada retórica expressava um arranjo político no qual as expectativas de mudança no sistema educacional consolidado dependiam de sua estrutura de poder e das expectativas de carreira consagradas pela tradição.
A presença de uma forte tradição clínica na medicina oitocentista não constitui uma barreira estrutural ao ingresso das novidades produzidas no terreno da experimentação em laboratório, como afirmam alguns historiadores. O amplo debate em torno das regras do 'método experimental' revela uma dimensão da luta travada entre adeptos de teorias médicas rivais, num contexto em que a dissensão entre os esculápios ameaçava sua autoridade científica, frente a outras categorias de curadores.
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