O artigo busca refletir sobre a atualidade e os sentidos da formulação da “sociedade contra o Estado”, de Pierre Clastres, no seio da etnografia que realizei com uma rede de parentes de ciganos Calon no estado de São Paulo. Para além das analogias mais evidentes entre o chefe calon e o líder indígena, e do imaginário de senso comum de uma vida nômade, “fora da lei”, livre das amarras da sociedade, é possível falar, com motivação etnográfica, de uma “socialidade contra o Estado” no contexto calon. Para tanto, é preciso adentrar a etnografia e conhecer categorias fundamentais do pensamento calon, especialmente aquelas que dizem respeito às suas relações com os brasileiros, ou gadje [não ciganos]. Os Calon se pensam imersos no mundo dos brasileiros, a partir do qual se fazem calon. Noções como a de vergonha, ligada ao corpo feminino, e de sozinho, em contraste com a vida entre parentes, aliadas à onomástica e a concepções de tempo-espaço permitem ter acesso ao modo pelo qual os Calon se concebem como pessoas e como socialidade, contra um gadje-Estado.
RESUMOEste artigo é um ensaio sobre o lugar do cigano em obras literárias produzidas pelo Ocidente. Se o imaginário ocidental vê no cigano um estrangeiro, um ser ambíguo, do qual sente temor ou fascínio conforme a situação, aqui se arrisca um deslocamento do recorte, chamando a atenção para a apropriação da figura do cigano na construção da identidade de duas nações: o Brasil e a Espanha. Servindo-se dessa figura de forma muito diversa, autores dos dois países transformaram o conteúdo da representação do cigano em um valor nacional próprio, comprovando, por outro lado, a ambigüidade e plasticidade da imagem do cigano.Palavras-chave: Cigano, literatura, representação, Espanha, Brasil.
ABSTRACTThis article is an essay about the place of Gypsy people in literary pieces produced by the Western Civilization. If the Western's imaginary sees the Gypsies as foreigners as much as an ambiguous beings, whom, depending on the situation, they fear or are fascinated with, here we take the chance to displace this interpretation, underlining the assimilation of the gipsy figure in the identity building process of two nations: Brazil and Spain. Using this image in assorted ways, authors from both countries restore the gypsy's representation content into a national value itself, proving, on the other hand, the ambiguity and plasticity comprised in the gypsy's image.
Dans cet article j’examine la pratique de la « bonne aventure » chez les Tsiganes calon dans l’État de São Paulo. Mon but est de décrire ethnographiquement l’interaction entre les Calins (les femmes tsiganes) et les « Brésiliens », dans ce que j’appelle le « cadre » de la lecture, où s’articulent deux visions du monde différentes et un imaginaire syncrétique commun qui produisent des significations et des affects.
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