Como resultado de uma singular combinação de fatores internos e externos, particularmente atuantes a partir do início dos anos 2000, a economia e o território do Brasil sofreram um avanço inaudito da produção de commodities agropecuárias e minerais. Nesse contexto, a produção de celulose despontou como um dos principais produtos exportados, territorializando-se em diferentes regiões por meio de megaempreendimentos que vinculam fábricas a imensas áreas de monocultivo de eucalipto. O objetivo do presente artigo é desvelar a dinâmica do trabalho no interior do recente processo de territorialização do capital arbóreo-celulósico no Brasil, com foco na precarização do trabalho e nos riscos e agravos à saúde dos trabalhadores. A pesquisa combinou procedimentos metodológicos quantitativos e qualitativos, investigando empiricamente os casos de três regiões: Porto Seguro (BA), Três Lagoas (MS) e Imperatriz (MA).
Bolsista de produtividade CNPq 1. Doutor em Geografia pela USP e professor dos cursos de graduação pós-graduação em Geografia da UNESP -Campus de Presidente Prudente. Coordenador do CEGeT e do CETAS. thomazjr@gmail.com Resumo A implantação do megaempreendimento da Veracel Celulose no Extremo Sul da Bahia, em meados dos anos 2000, foi anunciada como verdadeira redenção econômica e social para a região. Por meio de uma análise geográfica crítica, o presente artigo procura demostrar que, devido a elementos inerentes ao segmento arbóreo-celulósico no Brasil contemporâneo umbilicalmente associados à dinâmica global da acumulação capitalista no período de crise estrutural, a viabilização de empreendimentos como esse requer a adoção de uma estratégia territorial que combina distintas dinâmicas de acumulação (primitiva, via espoliação e ampliada). Diante disso, apresenta-se a hipótese da pilhagem territorial como chave-interpretativa geográfica abrangente do objeto. Palavras-chave: Veracel Celulose. Extremo Sul da Bahia. Território. Acumulação do capital. Pilhagem territorial. AbstractThe implementation of the mega project of Veracel Celulose in southernmost Bahia, in the mid-2000s, was announced as true economic and social redemption for the region. Through a geographic critical analysis, this article aims to demonstrate that, due to elements inherent in the tree-cellulose segment in contemporary Brazil inextricably linked to global dynamics of capitalist accumulation in a structural crisis period, the viability of projects like this requires the adoption a territorial strategy that combines distinct accumulation dynamics (primitive, via dispossession and expanded). Therefore, we present the hypothesis of territorial plundering as comprehensive geographic interpretative key of the object. Revisitando o conceito de acumulação do capital: Guilherme Marini Perpetua A pilhagem territorial promovida pela Antonio Thomaz Junior Veracel Celulose no Extremo Sul da Bahia CAMPO-TERRITÓRIO: revista de geografia agrária. Edição especial, p. 225-256, jun., 2016 ISSN 1809-6271 O capital nasce escorrendo sangue e lama por todos os poros, da cabeça aos pés. Karl Marx, O capital, Livro I. Introdução A primeira metade da década de 2000 representou, no plano do imaginário social, o momento de concretização de uma antiga "promessa" de desenvolvimento para o Nordeste brasileiro e, particularmente, para o Extremo Sul da Bahia: a implantação da pujante e moderna fábrica de celulose da transnacional Veracel Celulose S/A (joint venture entre a brasileira Fibria Celulose e a sueco-finlandesa Stora Enso), abastecida pelos maciços monoculturais de eucalipto virulentamente disseminados desde a década anterior nas terras do descobrimento. Ao acontecimento atribuíram-se os louros de passo derradeiro em direção à integração econômica da região ao mercado capitalista global, num movimento capaz de virar para sempre a amarga página do isolamento e da desigualdade, promovendo crescimento econômico, geração de divisas e, sobretudo, criação de empregos e re...
As recentes mutações no mundo do trabalho escancararam limites intrínsecos às diferentes vertentes explicativas dedicadas ao estudo do trabalho e da classe trabalhadora. No âmago do acirrado debate atual estão as figurações dos sujeitos sociais que trabalham derivadas, tanto de formas distintas de manejo do instrumental teórico-metodológico, quanto de divergências político-ideológicas, ambos, obviamente, aspectos indissociáveis e mutuamente intervenientes. A partir do diálogo entre conhecimentos produzidos em três campos disciplinares diferentes (a Sociologia do Trabalho, a História Social do Trabalho e a Geografia do Trabalho), o presente artigo objetiva indicar questões de cariz teórico-metodológico e também político que, a nosso ver, tanto têm contribuído para obnubilar ainda mais a realidade do trabalho e dos trabalhadores, quanto, por outro lado, são capazes de potencializar as análises e contribuir com as lutas dos sujeitos que trabalham.
ResumoO objetivo do presente artigo é apresentar e discutir os principais aspectos da dinâmica geográfica da mobilidade espacial do capital, envolvidos no processo recente de territorialização do monocultivo de eucalipto e da produção de celulose e papel no Município de Três Lagoas (MS) e em seu entorno regional, tendo como fundamento um aporte teórico que permite compreendê-lo como parte da processualidade contraditória do sistema de metabolismo social do capital. Neste intento, foram analisados os processos mais abrangentes que se desdobram no plano internacional e nacional envolvendo este setor produtivo, e os condicionantes internos que justificam a escolha deste subespaço para a recepção das megainversões. Conclui-se que este fenômeno é uma expressão concreta do ímpeto incontrolável da acumulação do capital, dentro da qual a mobilidade espacial funcional como um mecanismo elementar. Palavras-chave:Mobilidade espacial do capital; Territorialização do eucalipto; Produção de celulose e papel. AbstractThe aim of this article is to present and discuss the main aspects of the geographical dynamics of spatial mobility of capital involved in the recent process of territorialization of monoculture of eucalyptus and pulp and paper in the city of Tres Lagoas (MS) and its regional surroundings, taking as a basis a theoretical framework that allows to understand it as part of the contradictory processuality of the system of social metabolism of the capital. In this attempt, we have analyzed the broader processes that unfold at international and national levels involving this productive sector, and the internal constraints that justify the choice of this subspace for receiving the megainversions. We conclude that this phenomenon is a concrete expression of the uncontrollable momentum of capital accumulation, within which the spatial mobility works as an elementary mechanism.Key words: Spatial mobility of the capital; Territorialization of eucalyptus; Pulp and paper production. . ResumenEl objetivo de este artículo es presentar y discutir los principales aspectos de la dinámica geográfica de la movilidad espacial del capital involucrado en el reciente proceso de territorialización del monocultivo de eucalipto y de la producción de pulpa y papel en la ciudad de Tres Lagoas (MS) y su entorno regional, tomando como base un marco teórico que permite entenderla como parte de la procesualidad contradictoria del sistema de metabolismo social del capital. En este intento, se analizaron los procesos más amplios que se desarrollan en los ámbitos internacional y nacional relacionados con este sector productivo y las restricciones internas que justifican la elección de este subespacio para la recepción de megainversiones. Llegamos a la conclusión de que este fenómeno es una expresión concreta del impulso incontrolable de la acumulación de capital, en el que la movilidad espacial funciona como un mecanismo elemental.Palabras claves: Movilidad espacial del capital; Territorialización de eucalipto, Pulpa y papel.
A mobilidade coloca-se, neste início de século, como um tema candente e desafiador, cuja compreensão certamente deve compor a agenda da pesquisa em Geografia. Nesse sentido, o presente artigo procura expor e discutir de forma sistemática os principais elementos da matriz interpretativa marxiana/marxista sobre a mobilidade espacial do capital e da força de trabalho, buscando analisá-los sob a ótica da ciência geográfica. O argumento central desenvolvido é que essas formas de mobilidade não são apenas efeitos da dinâmica da acumulação sempre ampliada do capital, como também um fator imprescindível de sua ocorrência, numa relação que lhe confere sentidos profundos no sociometabolismo hegemônico vigente.
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