As duas últimas décadas testemunharam a emergência do discurso da sustentabilidade como a expressão dominante no debate que envolve as questões de meio ambiente e de desenvolvimento social em sentido amplo. Em pouco tempo, sustentabilidade tornou-se palavra mágica, pronunciada indistintamente por diferentes sujeitos, nos mais diversos contextos sociais e assumindo múltiplos sentidos.Sua expansão gradual tem influenciado diversos campos do saber e de atividades diversas, entre os quais o campo da educação. Há pouco mais de uma década, observa-se entre os organismos internacionais,as organizações não-governamentais e nas políticas públicas dirigidas à educação, ambiente e desenvolvimento de alguns países, uma tendência a substituir a concepção de educação ambiental, até então dominante, por uma nova proposta de "educação para a sustentabilidade" ou "para um futuro sustentável".Essa renovação discursiva no debate internacional pode ser observada nas conferências e documentos da UNESCO, na Agenda 21 proposta na Rio-92, nas políticas educacionais de diversos governos da União Européia e na produção acadêmica internacional que serve de base a esta orientação. Gradualmente, e com intensidades variadas, o novo discurso passou a penetrar também o debate em outros países centrais e periféricos e nas demais esferas institucionais.No Brasil, o discurso da educação para a sustentabilidade ainda é pouco disseminado na literatura e nas práticas que relacionam educação e meio ambiente. Entretanto, a crescente difusão do discurso da sustentabilidade no contexto de um mundo globalizado -marcado por relações entre as esferas locais e globais e por relações de dependência política e cultural entre países do centro e da periferia do sistema mundial-recomenda a análise de seus significados e a avaliação de suas contribuições para o debate brasileiro.Quais os significados e implicações desta articulação entre a educação e a sustentabilidade? Qual a natureza e os objetivos desta renovação discursiva? Educar para sustentar o quê? Qual a diversidade de leituras sobre este debate e quais os principais argumentos a favor e contra a nova proposta? Que fundamentos, valores e interesses estão envolvidos neste processo? Qual a história da construção do discurso da sustentabilidade e de sua inserção na educação?Essas são algumas das questões que norteiam a reflexão deste ensaio. Problematizando-as, procuramos compreender as relações entre a sustentabilidade e a educação, a diversidade de sentidos envolvidos nesta construção, o jogo de forças e interesses que nela se destacam, assim como as principais ênfases e contradições que marcam este campo discursivo.Para realizar o trabalho, recuperamos, em primeiro lugar, um pouco da história do surgimento do discurso da sustentabilidade. Em seguida, desenvolvemos uma análise das principais críticas favoráveis e desfavoráveis a este discurso. Em um terceiro momento, exploramos a diversidade de interpretações que constituem a sustentabilidade como um campo discursivo para, finalmente, abordarmos os signif...