O urbano em questão na antropologia:interfaces com a sociologia 1Heitor Frúgoli Jr.
Professor do Departamento de Antropologia -USPRESUMO: O artigo aborda temas em torno da dimensão urbana na antropologia, explorando diálogos de fronteira entre tal disciplina e a sociologia em três momentos específicos: o primeiro sobre as décadas iniciais da Escola de Chicago, época de definição de uma pauta de pesquisas etnográficas sobre a cidade e a cultura urbana, com investigações pioneiras sobre a segregação socioespacial, com ênfase no conceito de gueto; no segundo, analisam-se interfaces entre a antropologia e a sociologia urbanas em São Paulo, nas décadas de 1970 e 1980, em torno do tema da periferia, com a produção de pesquisas marcadas pela polarização entre os conceitos de cultura e ideologia; finalmente, enfocam-se desafios contemporâneos à antropologia urbana, buscando-se retomar tópicos de um diálogo disciplinar que ocorre apenas implicitamente, bem como reaver o tema da periferia, tendo em vista fenômenos recentes que implicam tomá-la simultaneamente como espacialidade, processo e conjunto polifônico de representações nativas.PALAVRAS-CHAVE: antropologia urbana, sociologia urbana, diálogos de fronteira, segregação socioespacial.
O crescente uso do crack no Brasil-que desperta várias inquietações, com tentativas de compreensão, diagnóstico e ação que abrangem diversos campos do saber-envolve uma faceta recorrente: a visibilidade de tais práticas em espaços públicos de diversas cidades brasileiras. 1 Inicialmente assim nomeada em São Paulo, a chamada cracolândia 2 tem se tornado um termo generalizado (e em certas cidades, já usado no plural), o que exige uma significativa atenção quanto à sua polissemia. Isso ocorre, guardadas as proporções no tempo e no espaço, com outros termos já consagrados nas ciências sociais, como favela ou periferia, que remetem a conjunções de espacialidades, processos de longa duração, representações, relações e narrativas que exigem recortes e delimitações constantes para o devido enfrentamento de um possível excesso de significados (
Neste artigo pretende-se discutir uma série de questões referentes à centralidade no contexto urbano de São Paulo. Nosso objetivo é determinar: a) como os principais grupos privados se organizam para definir a localização espacial do moderno setor terciário; b) como tais organizações pressionam o poder público, visando obter benefícios de infra-estrutura de equipamentos urbanos; c) quais são as respostas concretas dos poderes públicos; e d) quais são os principais grupos sociais, oriundos das classes populares, mais atingidos por esse jogo de interesses.
Levando em conta as recentes transformações nos centros das grandes metrópoles, tem ocorrido uma redefinição do papel estratégico desses espaços na vida urbana. Pretendo enfocar interesses e aspectos organizativos da Associação Viva o Centro – fundada em 1991 e mantida por empresários, proprietários e entidades civis –, cujo intuito é articular um projeto de requalificação da área central de São Paulo, uma região de alta diversificação social. Além disso, analisarei como essa associação se posiciona com relação à ocupação popular do centro, uma vez que projetos desse tipo caracterizam-se em geral pela possibilidade da realização de processos de gentrification, com maior ou menor grau de exclusão territorial.
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