Nas reconfigurações geopolíticas contemporâneas, as mídias sociais e as estratégias psicológicas assumem centralidade nos novos modos de exercício do poder. Nesse contexto, memes bolsonaristas constituem registros importantes dos processos psicopolíticos operantes nos últimos seis anos no Brasil, marcados por ataques ao seu sistema político-democrático. Por meio de análise temática e semiótica, este estudo examinou as estratégias utilizadas por 56 memes bolsonaristas para manipular emoções com conteúdos relacionados à masculinidade. Identificou-se que os memes centraram-se no ataque à masculinidade dos “esquerdistas”, por três vias temáticas: 1) homofobia e representação dos homens de esquerda como gays; 2) desvirilização e masculinidade dos homens de esquerda representada como fraca e “feminina”; e 3) ataque à dimensão laboral dos homens de esquerda. Destaca-se que, por meio de conteúdos que atingem o cerne identitário da masculinidade hegemônica, os memes buscam incitar o ódio e repúdio contra a esquerda e fortalecer a fratura social “nós x eles/outros”.
Resumo: A pandemia de Covid-19 incidiu diretamente sobre os arranjos e exercício do cuidado interpelado às mulheres. Investigou-se como mulheres mães exerceram esses cuidados, as mudanças ocorridas nesse exercício e os efeitos ressentidos, por meio de um survey online (N = 5.643). Responderam principalmente mulheres brancas de classe média a alta com escolarização avançada. Mesmo para esse segmento privilegiado, constatou-se que a pandemia exacerbou as desigualdades de gênero no cuidado doméstico e familiar. As mulheres encontravam-se sobrecarregadas e cansadas; sozinhas na encruzilhada entre trabalho profissional e trabalho de cuidados múltiplos; cuidando muito e sendo pouco cuidadas; muito disponíveis para outros e pouco disponíveis para si; e relataram culpa e sentimento de inadequação no cuidado e relação com os filhos.
Este artigo aborda a relação entre os modos de subjetivação resultantes das situações de vulnerabilidade social e o uso abusivo de crack. A partir de um estudo de caso clínico, examinou-se como a ação do crack sobre o corpo pulsional se liga à experiência do sujeito e à sua inscrição no laço social e na realidade sociocultural. Observou-se estreita articulação entre o estatuto do corpo engendrado pelo uso de crack e o lugar conferido ao corpo nas situações de precariedade e exclusão.
Resumo: Mulheres em situação de rua sofrem violações e vulnerabilizações específicas e gendradas. Este estudo tem como objetivo examinar as diferentes manifestações e incidências da violência que as atinge. Foram realizadas nove entrevistas aprofundadas e pesquisa de campo de cunho etnográfico. Violências físicas e sexuais revelaram-se os principais deflagradores para a ida para as ruas, mas não sua causalidade, pois incidiram em vidas já devastadas por violências estruturais e interseccionais. O cotidiano nas ruas mostrou-se corroído por violências explícitas e veladas e pela submissão à violência como modo de sobrevivência. Destaca-se que gênero, raça e pobreza são acionados como autorização para a violência sobre os corpos e subjetividades dessas mulheres.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.