O artigo apresenta uma análise sociolinguística em tempo aparente da variação na concordância de número no Sintagma Nominal (SN), no português rural da Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro. Foi observada a aplicação ou não da regra no SN como um todo, no que se denominou abordagem sintagmática ou não-atomística. A análise variacionista baseou-se em uma amostra de fala vernácula colhida na zona rural do município de Nova Friburgo, com 35 informantes de duas gerações, distribuídos pelos dois sexos. Os dados colhidos na amostra de fala foram submetidos ao processamento quantitativo de cálculo multivariado, com a utilização do programa GoldVarb, para identificar os condicionamentos sociais do fenômeno variável. Assumiu-se que a variação na concordância nominal de número é o resultado de uma mudança induzida pelo contato entre línguas ocorrida no passado, considerando a história sociolinguística do Brasil como um todo e particularmente o multilinguismo presente na história da região, que congregou colonos suíços e alemães, além de colonos portugueses e brasileiros e africanos escravizados. Portanto, a hipótese que norteou toda a análise foi a de que o mecanismo da concordância nominal teria se erodido no passado em função do contato linguístico e atualmente estaria se recompondo em função do nivelamento linguístico que caracteriza o português popular desde meados do século XX, no contexto da polarização sociolinguística do Brasil. Os resultados empíricos comprovaram que o contato entre línguas atuou fortemente na formação das variedades populares do português do Brasil, afetando principalmente os mecanismos gramaticais que não têm valor informacional.
Este artigo é parte da tese que investigou, no âmbito da Sociolinguística, a variedade dialetal das comunidades rurais do 3º Distrito de Nova Friburgo, partindo da hipótese de que nela havia uma arquicomunidade de fala. Seu objetivo se concentra em compreender como os próprios falantes avaliam a sua variedade e como a veem frente a outra considerada de prestígio, levando em conta que o julgamento linguístico é carregado de valores simbólicos que contribuem para a valorização ou para a estigmatização de um grupo de falantes. Para tanto, foram realizadas 39 entrevistas com moradores, sendo 19 da faixa etária 1 (entre 35 e 50 anos) e 20 da faixa etária 2 (entre 14 e 18 anos); 20 mulheres e 19 homens. Os resultados demonstraram que a juventude domina mais de um código oral e tenta acioná-los de acordo com o contexto enunciativo. Isso aponta para duas conclusões: a geração mais nova, se não domina todas as regras da língua padrão, ao menos reconhece o ambiente em que sua variedade é aceita e conhece os mecanismos para adequar sua fala, mesmo que não consiga êxito em todas as suas realizações; e, se há problemas com a aceitabilidade dessa variedade é porque ela sofre preconceito. Assim, como provavelmente os mais velhos foram os que mais ficaram expostos a avaliação negativa de fala, eles reproduzem a estigmatização que sofreram, buscando concordância e complementaridade com seu interlocutor. Já os jovens utilizam, como estratégia contra o preconceito, sua capacidade de acomodação e convergência de fala.
Este trabalho analisou a variação da concordância nominal de número em predicativos do sujeito e estruturas passivas no vernáculo rural de Nova Friburgo-RJ, com base nos pressupostos da Sociolinguística Variacionista. Os dados foram recolhidos em 35 entrevistas realizadas com 16 homens e 19 mulheres; 14, entre 35 e 55 anos; e 21, entre 14 e 19 anos. A quantificação foi realizada com o auxílio do programa Goldvarb. Os condicionamentos estruturais da variação, nesta comunidade de fala, estão ligados ao Princípio de Coesão Estrutural. Constatou-se que a frequência geral de aplicação da regra ali é de 28,3%. Contudo, se SN sujeitos e verbos de uma mesma sentença apresentam os mecanismos de concordância, estes passam a ser replicados em predicativos e particípios numa frequência de 76%. Quando um quantificador é empregado na estrutura predicativa, a coesão se enfraquece, fazendo a concordância cair a menos de 7%. Outrossim, quando não há concordância de gênero entre sujeito e predicativos/particípios, a de número se apresenta em menos de 9%. Portanto, pode-se concluir que há maior tendência à utilização das regras de concordância de número em predicativos e estruturas passivas, se as sentenças também apresentam concordância no sujeito no verbo.
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