Resumo: Este artigo discute a fabricação do Município de Cubatão, Brasil, como espaço tóxico e de poluição na década de 1980. Entende-se a toxicidade como uma construção ao mesmo tempo material e discursiva, baseada nas ansiedades da sociedade industrial. Para discutir a questão, utiliza-se o jornal A Tribuna de Santos, que foi o principal espaço de publicação de matérias sobre desastres ambientais na região. O texto discute o tema levando em consideração a relação entre desastres ambientais e perspectivas desenvolvimentistas articuladas durante o mais recente regime autoritário brasileiro.Abstract: This article stresses the fabrication of Brazilian city of as a toxic place in the 1980s. Toxicity is taken as a material and discursive construction, based on anxieties of industrial society. To discuss the issue, we use the newspaper A Tribuna de Santos, which was the main publisher of environmental discussions on disasters in the region of Cubatão. We discuss this issue observing the relationship between environmental disasters and development perspectives articulated by the later Brazilian authoritarian regime. Neste artigo, buscamos discutir, do ponto de vista de uma história voltada às questões ambientais, o trabalho de denúncia e problematização da poluição em Cubatão, São Paulo, por parte da imprensa na década de 1980, entre os últimos anos do regime militar e o movimento de redemocratização e a emergência de novas ou diferentes posturas públicas acerca de temas ambientais que envolvem diretamente a saúde das populações humanas.A partir do segundo pós-guerra, o Brasil tem sido palco de inúmeros projetos de modernização, imersos num universo muito característico e vigoroso na história recente do país: o desenvolvimentismo. Muitos dos projetos iniciados nos anos 1950 já indicavam, duas décadas depois, o que o historiador Warren Dean (2000) veio a qualificar como exemplos de "desenvolvimentos insustentáveis", ou seja, "projetos que atingiram um clímax que não resultou apenas em crise econômica, mas também em uma tempestade conjunta de desastres ambientais" (DEAN, 2000, p. 307). Em meio às teias de relações funcionais das peças da modernização, tais como industrialização, a urbanização acelerada, as migrações e as novas relações entre cidade e desenvolvimento, Cubatão/SP acabou simbolizando o sucesso do desenvolvimento industrial, mas também os dilemas do desenvolvimentismo, especialmente aqueles ligados à tecnologia de força bruta. Representada de diversas maneiras ao longo do tempo, Cubatão conseguiu ser descrita como "locomotiva do Brasil" nos anos 1950, "marco do desenvolvimento" e "cidade técnica" nos anos 1970. Nos anos 1980, o município passou a ser descrito como um