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João de Figueirôa-Rêgo
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Fernanda Olival
4Neste texto, analisa-se de que forma o centro político de Lisboa e as elites coloniais lidaram com a realidade da cor no espaço atlântico, sobretudo no que respeitava ao provimento de lugares e, inclusive, no acesso a distinções sociais de patamar intermédio; averigua-se o modo como o centro político fundamentou as suas perspectivas sobre a temática em diversas cronologias; tenta-se também sondar se nalguns locais a existência de sangue nativo no seio dos grupos sociais elevados terá alterado uma percepção simplista das variantes cromáticas. Como a questão abarcou, grosso modo, os tempos fortes (1570-1773) da vigência dos estatutos de pureza de sangue em Portugal, discute-se a possível conexão / contaminação entre essas duas realidades. Dans ce texte nous analysons de quelle façon le centre politique de Lisbonne et les éli-tes coloniales ont traité la réalité de la couleur dans l' espace atlantique, particulièrement en ce qui touche l'attribution des postes et, également, l'accès aux distinctions sociales de niveau intermédiaire; on étudie également la façon dont le centre politique a fondé ses perspectives sur cette thématique dans diverses chronologies: on cherche également à véri-fier si dans certains endroits l' existence d'un sang natif au sein des groupes sociaux élevés aurait modifié la perception simpliste des variantes chromatiques. Du fait que la question a englobé, grosso modo, les temps forts (1570-1773) de la durée des statuts de pureté du sang au Portugal, on discute la possible connexion/ contamination entre ces deux réalités.
Mots-clé:Metissage -postes séculiers -clergé _______________________________________ Com a expansão marítima dos povos peninsulares, o problema da cor da pele rapidamente ganhou relevância como um tópico que facilmente identificava o não europeu.A partir do século XV, era cada vez mais raro escravizarem-se os brancos, ao mesmo tempo que os subsaarianos afluíam em número crescente aos portos portugueses; eram trazidos de forma forçada para serem escravos e vendidos em diferentes paragens do mundo atlântico. Em meados do século XVI, constituíam quase 10% da população de Lisboa.5 Simultaneamente, diferentes formas de miscigenação tornaram-se a pouco e pouco um dado evidente, tanto em Portugal, como sobretudo nos territórios coloniais. Além de negro, preto e índio, mestiço, mulato, mameluco, cabra, pardo, baço, crioulo, etíope, guinéu, cafre, fusco, cafuzo,
117Cor da pele, distinções e cargos: Portugal e espaços atlãnticos portugueses (séculos XVI a XVIII) trigueiro, branco da terra foram algumas das formas vocabulares 6 para designar não etnias, mas a presença de gente de cor em Portugal e no império atlântico. Desde logo, esta diversidade de denominações, algumas com carácter regional, outras oscilantes em funções de interesses em vista, configura uma dificuldade acrescida quando se pretenda observar o relacionamento sócio-racial. Na época, adjectivar seria, tanto ou mais do que descrever, classificar socialmente.Se negro ou pret...