ResumoEste artigo reflete sobre o lugar atribuído aos povos indígenas na histó-ria oficial do Acre. A partir da ideia de amazonismo, discuto o imaginá-rio ocidental sobre a Amazônia e seus primeiros habitantes, enfatizando sua profunda ambiguidade. Mostro como esse imaginário serviu de guia à conquista do Acre durante o auge da economia extrativista da borracha e como os povos indígenas da região foram inicialmente marginalizados e excluídos da história para exaltar o heroísmo dos colonizadores, só adquirindo visibilidade após sua organização como atores políticos a partir da década de 1970 num novo contexto de colonização da região. Por fim, analiso a situação contemporânea que, apesar de mais favorável aos índios, reinventa uma história idílica e continua reproduzindo os estereótipos ocidentais sobre essas populações.Palavras-Chave: Amazônia, Acre, povos indígenas. AMAZONISM IN ACRE AND INDIGENOUS PEOPLES: REVISI-TING ACREAN HISTORY AbstractThis article deals with the place attributed to indigenous peoples in the official history of the state of Acre. Starting with the notion of Amazonism, I discuss Western imaginary about the Amazon and its first inhabitants with an emphasis on its deep ambiguity. I show how this imaginary served as a guide to the conquest of Acre during the rubber boom and how the region's indigenous peoples were initially marginalized and excluded from its history in order to boost the colonizers' heroism. It was only in the 1970s that the Indians acquired some visibility after they organized themselves as political actors in a new colonization context of the region. Lastly, I analyze a contemporary situation which, although more favorable to the Indians, reinvents an idyllic history and continues to reproduce Western stereotypes about these peoples.
Com uma presença notável na região da Selva Central peruana e uma pequena diáspora em território brasileiro, os Ashaninka são hoje um dos povos indígenas mais numerosos da bacia Amazônia, com mais de cem mil pessoas. Como outros povos indígenas da América Latina e da Amazônia, em particular, foram separados pela formação das fronteiras dos Estados nacionais. No início do século XX, com a incorporação do Acre ao território brasileiro e a demarcação da fronteira internacional entre Brasil e Peru na região do Alto Juruá, acabaram divididos de modo extremamente desigual pela geopolítica ocidental. Hoje, menos de 2% da população ashaninka habita o território brasileiro. Esta pequena diáspora não soma duas mil pessoas divididas em sete terras indígenas, todas situadas no Acre, nos afluentes do alto rio Juruá, na fronteira com o Peru. Entre os Ashaninka que vivem hoje no Brasil, destacam-se os da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, território demarcado oficialmente pela FUNAI em 1992. Com uma população atual de cerca de 800 pessoas, reagrupadas na aldeia Apiwtxa e nos seus arredores, os Ashaninka do Rio Amônia representam quase a metade das famílias situadas no Brasil. Embora extremamente minoritários se comparados à população total desse povo indígena, os Ashaninka do Amônia adquiriram uma visibilidade importante nos últimos anos em razão, principalmente, de sua atuação na política interétnica e de suas iniciativas em prol do desenvolvimento sustentável do Alto Juruá. Num contexto marcado por divergências e conflitos em torno das políticas de desenvolvimento para essa região de fronteira, este artigo discute as relações dos Ashaninka do Rio Amônia com seus semelhantes situados em território peruano. Ele dá continuidade a uma reflexão anterior (Pimenta, 2012a) e procura desvendar algumas características recentes da etnopolítica da APIWTXA, associação dos Ashaninka do Rio Amônia. Nas páginas que se seguem, busco mostrar que a lógica colonial dos Estados-nações e a demarcação da fronteira internacional no Alto Juruá nunca apagou o sentimento étnico do povo Ashaninka, que continua se pensando
Resumo Este artigo aborda um tipo de união matrimonial geralmente invisibilizado e provocador para o imaginário nacional brasileiro: o casamento interétnico entre uma mulher branca e um homem indígena. Baseia-se na análise de um caso ocorrido em meados dos anos 1960 no rio Amônia, na região acreana do Alto Juruá. Após refletir sobre a história dos Ashaninka nessa região de fronteira do Brasil com o Peru e mostrar a necessidade de repensar alguns lugares-comuns sobre a vinda desse povo indígena para o Alto Juruá brasileiro, o texto apresenta a trajetória de dois grupos familiares que se instalaram no rio Amônia na década de 1940. Mostra a singularidade desse matrimônio interétnico, discute seus significados, para os brancos da região e para os Ashaninka, e apresenta seus efeitos políticos. Sustenta a tese de que esse casamento é fundamental para entender o protagonismo e a visibilidade política dessa comunidade indígena no campo do indigenismo nas últimas duas décadas.
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