Este artigo pretende, aliando forma literária e processo histórico-social, investigar a figura dos desaparecidos nos romances de Chico Buarque. A categoria tem se mostrado como central na feitura romanesca do autor, tendo se repetido nos romances Benjamim (1995), Leite derramado (2009) e O irmão alemão (2014). Assim, partindo dessas narrativas, este trabalho se propõe a examinar o desparecido não apenas como marca de conteúdo, seja ele um desaparecido político ou não, mas como estruturante das obras investigadas e também como marca de uma literatura contemporânea que elabora um passado recalcado.
Os últimos cinquenta anos da história brasileira encerram dois grandes marcos: um regime militar violento e uma redemocratização conciliadora que deixaram marcas explícitas na história recente do país, o que pode ser inferido pelo golpe travestido de impeachment, ou seja, de legalidade, da presidenta eleita em 2014 e afastada em 2016. Esse quadro parece dar o tom da atual conjuntura brasileira com um passado que teima em reverberar no presente, acrescido de uma nova problematização: o tom misógino dos ataques sofridos pela presidenta afastada que escancara um problema estrutural da nossa sociedade.Sendo esses uma parte dos nossos pressupostos, este artigo refletirá sobre obras de autoria feminina, a saber: os romances Fim (2013), de Fernanda Torres; Paraíso (2014), de Tatiana Salem Levy; Quarenta dias (2014), de Maria Valéria Rezende; Volto semana que vem (2015), de Maria Pilla; e os documentários Diário de uma busca (2010) de Flávia Castro; Uma longa viagem (2011), de Lúcia Murat; Elena (2012), de Petra Costa; e Os dias com ele (2013), de Maria Clara Escobar. Acrescidos a estes estão os dois romances centrais na nossa argumentação: Sinfonia em Branco (2001) e Azul-corvo (2010), de Adriana Lisboa. Trabalhar somente com autoras é um esforço deste artigo na busca por representatividade, dialogando assim com os dados que Regina Dalcastagnè apresenta chamando a atenção para o fato de que, entre 1990 e 2004, os homens representavam mais de 70% das publicações nas maiores editoras do país (147-96). Ao mesmo tempo, compreendemos que há uma socialização dos gêneros que permite não simplesmente atribuir características ditas femininas à escrita -limitando-a a condições essencialistas-, mas problematizar as construções narrativas realizadas pelas autoras aqui investigadas. Importante salientar também que a discussão aqui pretendida busca sobretudo a análise estética articulada às discussões políticas.Isso posto, a presente análise se norteará pelos vetores expressos já no título: política e vida familiar articulados à autoria feminina. Pela análise que propomos, essa produção de escritoras contemporâneas, em cujo argumento está a matéria política nacional (em especial a ditadura civil-militar de 1964-1985), se centra em dramas
Este trabalho analisa a personagem Nêngua Kainda, da obra Ponciá Vicêncio (2003), de Conceição Evaristo, e a personagem dona Iara, do conto “O mistério da Vila”, publicado no livro O Sol na Cabeça (2018), de Geovani Martins. Ambas personagens femininas transitam pelo espaço e simbolismo da ancestralidade, religião, espiritualidade e misticismo, guardando diferenças entre si no que tange à valorização e preconceito. Na novela de Conceição Evaristo, Nêngua Kainda aparece como uma velha e sábia mulher, reverenciada pelos seus pares em sua sabedoria e poder de cura de suas garrafadas. Dona Iara, por sua vez, ocupa um espaço e tempo contemporâneos nos quais a religião de matriz africana perde lugar para cultos cristãos, o que coloca a personagem no ambíguo lugar de quem é alvo de respeito e medo, de reverência e preconceito. Subsidiando a análise e a discussão, estão Antonio Candido (2014), Dalcastagnè (2015).
Pretendemos discutir neste artigo o corpo como elemento erótico na novela Um copo de cólera, de Raduan Nassar. Utilizamos como suporte teórico as ideias do corpo em cena, propostas por David Le Breton (2009) e do escritor Octavio Paz (1994) sobre as relações entre o amor, o erotismo e sexualidade. Objetivamos compreender de que modo esse corpo é construído enquanto elemento erótico a partir das ações e gestos manifestos pelos personagens. Para alcançá-lo, realizamos a leitura integral da obra, bem como uma documentação em arquivo digital para sistematizar a análise dos dados, com a qual encontramos três dimensões do corpo vinculados ao erotismo: (1) um corpo erótico despudorado, repleto de desejo e devassidão; (2) o corpo erótico colérico, que se demarca e se (auto)produz enquanto campo de conflito e (3) o corpo erótico desnudado, cujo desnudamento se dá pelo deslocamento da voz narrativa (da masculina para feminina) e se expressa diretamente em como esses corpos são vistos pelos personagens-narradores. Com isso, percebemos que olhar para esse corpo em cena é mais do que compreender as ações dos personagens, é, também, identificar-se em uma solidariedade corpórea que somente as representações artísticas podem promover, sendo o corpo e seu erotismo um canal capaz de nos desestabilizar e de nos pôr em confronto com emoções mais primitivas, por vezes reprimidas, típicas da própria natureza humana.
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