O advento do Antropoceno tem fomentado inúmeras querelas entre correntes de pensamento sobre as causas e consequências dessa nova era para o planeta e para a humanidade, diante do iminente esgotamento e aprofundamento da distribuição desigual dos recursos naturais. Neste ensaio teórico crítico, propomos a noção de desigualdade hidrossocial como uma leitura alternativa da desigual apropriação física, discursiva e política da água sob a lógica capitalista. Para isso, recorremos, fundamentalmente, às contribuições do Capitaloceno, mais especificamente às ideias de Ecologia Mundo Capitalista e de Natureza Barata, e do ciclo hidrossocial. A noção de desigualdade hidrossocial permite atualizar e ampliar o marco analítico temporal, espacial e material da crise hídrica. A apropriação e distribuição assimétrica do “ciclo hidrológico” e de externalidades, com a submissão cada vez maior do ciclo hidrossocial à lógica neoliberal e estatal, tende a exacerbar as modalidades de desigualdade, injustiças, conflitos, violências de uma crise de grandes proporções.
Abordamos a tríade Estado, água e poder na gestão hídrica do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tibagi (CBHT), localizado no estado do Paraná. Nosso objetivo é compreender os processos que evidenciam a assimetria de poder na governança do CBHT como expressão das relações de forças que procuram controlar as principais decisões políticas sobre os usos da água. Metodologicamente, adotamos uma abordagem qualitativa com perspectiva descritiva e baseada em dados documentais e entrevistas. Ao final, afirmamos que a crônica lentidão, a escassez de recursos e a centralização decisória constituem e perpetuam a assimetria de poder nos novos arranjos de governança. Esse quadro, apesar do histórico de resistência de representantes da sociedade civil, é estratégico para represar demandas democráticas por sustentabilidade na gestão da água e privilegiar interesses de seus grandes usuários. As “falhas” de governança têm no Estado um agente e um espaço estratégicos para favorecer a apropriação da água como matéria-prima e diluente de resíduos a baixo custo, enfim, utilizada como água “barata”. Dessa forma, custos de uma apropriação desigual da água são socializados para a sociedade e para a natureza no processo de mobilização dos fluxos de água da bacia hidrográfica do Tibagi, segundo o tempo e a lógica dos fluxos financeiros do circuito global do capital e das forças políticas dominantes na escala regional.
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