Neste trabalho, discute-se a aliança de compromisso entre a Medicina e a Psicologia na configuração da Educação Especial no Brasil. Importante evidenciar que a Psicologia, ao sair do campo da Filosofia e almejar o status de ciência, incorpora o corpus epistemológico da Medicina, principalmente no que se refere aos conceitos de adaptação e desenvolvimento oriundos da Biologia. Dessa forma, o funcionamento dito psicológico é muitas vezes reduzido à maturação, o que implica diretamente uma concepção predeterminada acerca da aprendizagem, por exemplo. Analisar alguns matizes históricos, os quais evidenciam a confluência entre Medicina e Psicologia, objetiva problematizar por que, ainda hoje, em tempos de educação inclusiva, são preferencialmente médicos e psicólogos que são chamados à escola em nome de um saber especialista. O campo social e político, no qual a escola está imersa, fica imune às críticas perante a hegemonia do discurso médico-psicológico. Destaca-se que o atendimento escolar do diferente, nos seus primórdios, ocorria em classes anexas a hospitais e asilos, geralmente de caráter filantrópico, o que denota, na origem, a influência do campo médico, responsável por tais instituições. Pautando-se nos procedimentos da Medicina, a Educação Especial incorpora a visão clínica através dos processos de reabilitação e legitima a deficiência como uma questão individual, em consequência de fatores orgânicos. Conclui-se que o saber médico-psicológico foi determinante na definição do atendimento escolar especializado, em instituições exclusivas, daquelas crianças consideradas inadequadas ao ensino regular.