Os objetivos centrais do presente artigo são (1) apresentar à comunidade científica o projeto PortVix, que trata da fala da cidade de Vitória, capital do Espírito Santo; (2) sintetizar os trabalhos desenvolvidos e em desenvolvimento, com base nos dados deste projeto; e (3) tecer considerações sobre o alinhamento da fala de Vitória ao cenário nacional e sobre traços que a caracterizam. A Teoria da Variação e de Mudança Linguística norteia a organização da amostra e, de forma geral, a análise de diversos fenômenos variáveis, a saber, alternância entre futuro do pretérito e pretérito imperfeito; a expressão variável do futuro do presente; usos do gerúndio; variação sintática das orações adverbiais finais; alternância nós/a gente; a expressão do objeto direto anafórico; concordância nominal; concordância verbal; expressão gramatical do imperativo; alternância indicativo/subjuntivo; alternância você/cê/ocê; ausência/presença de artigo diante de antropônimos e de possessivos. Observações do senso comum e resultados das análises permitem evidenciar que, ao lado de aspectos que alinham a fala de Vitória-ES ao cenário nacional, corroborando a generalidade de diversos fenômenos, há outros aspectos que permitem inferir a caracterização da fala capixaba face aos três estados com os quais o Espírito Santo estabelece fronteiras: Rio de Janeiro, Bahia e, especialmente, Minas Gerais.
Exceto onde especificado diferentemente, a matéria publicada neste periódico é licenciada sob forma de uma licença Creative Commons -Atribuição 4. ABSTRACT:In the present study, based on the perspective of Sociolinguistics Variationist (Labov, 2008(Labov, [1972), we analyze two phenomena related to the first person plural: the alternation of first person plural nós/a gente (we) and the agreement with nós (we). We focus on linguistic variables verb tense and phonic salience, and also the age and a stylistic variable -interaction with the interviewer. The corpus used consists of 32 interviews (Labov, 2008), belonging to the Portuguese Sample Spoken in the Rural Area of Santa Leopoldina, Espírito Santo. For the quantification of data, we use the program GoldVarbX (Sankoff; Tagliamonte and Smith, 2005). We noted that the implementation of a gente (we) is favored by contexts that express "run away from agreement ausence". We noted also that (1) nós is favored by present and past tense when there is ambiguity between the forms: if there is non-agreement, the morpheme -mos express past tense and the absence of the morpheme -mos express the present; (2) verbs that are less salient favor a gente or non-agreement; (3) men that have 26 to 49 years old favor a gente; (4) nós is most frequent when the interaction occurs with the interweer borned in the community.
ResumoSob a perspectiva da Sociolinguística Variacionista, analisamos três construções com a primeira pessoa plural: padrão antigo -nós com -mos (nós moramos); não padrão -nós sem -mos (nós mora); padrão emergente -a gente sem -mos (a gente morou/a gente mora). Os dados analisados são de quatro amostras do português brasileiro -Santa Leopoldina-ES, Baixada Cuiabana -MT, Goiás e Vitória-ES -e foram analisados em oposições binárias e ternárias, por programas estatísticos da série Varbrul. Os resultados indicam que a restrição mais importante é o grau de facilidade da percepção da diferença entre formas com e sem o morfema -mos, conhecida como saliência fônica: quanto maior a saliência fônica, mais a possibilidade de usar a forma com -mos. Uma vez que as formas do pretérito tendem a ocupar altos níveis de saliência, há distribuição parcialmente sobreposta entre tempo e saliência. Para a terceira pessoa plural, pesquisas anteriores mostram que a saliência é um preditor melhor do que tempo. Para a primeira pessoa plural, a distribuição sobreposta tende a conduzir, em alguns contextos estruturais e sociais, a uma reanálise de tal forma que o morfema -mos é usado preferencialmente para marcar pretérito 429 Diadorim, Rio de Janeiro, vol. 20 -Especial, p.428-457, 2018.perfeito. Isto resolve a ambiguidade entre presente e pretérito nos casos padrão de nós com -mos (nós moramos, preferencialmente pretérito) e não padrão nós sem -mos (nós mora, presente). Como parte de um fluxo de padronização, a construção nominal a gente, do substantivo latino singular gens gentis 'tribo', é inserida no sistema pronominal como primeira pessoa do plural. Isto cria um padrão emergente, a gente sem -mos. Estas questões nos levaram a (1) propor uma hierarquia da saliência levemente modificada, denominada de hierarquia da proeminência, (2) discutir análises binárias e ternárias e (3) concluir que processos diacrônicos de séculos passados emergem da análise sincrônica de dados hoje disponíveis. Palavras-chave:Variação nós e a gente; Saliência fônica; Tempo verbal; Efeitos cognitivos; Efeitos funcionais e estruturais. AbstractUsing the methodology of sociolinguistic variation studies, we analyze three first person plural constructions: old standard nós with -mos (nós moramos 'we lived' or 'we live'); non-standard nós without -mos (nós mora 'we live'); emerging standard a gente without -mos (a gente morou 'we lived'/a gente mora 'we live'). The data we analyzed come from four samples of Brazilian Portuguese: Santa Leopoldina-ES, Baixada Cuiabana-MT, Goiás and Vitória-ES. Our analyses were carried out in both binary and ternary models using statistical programs of the Varbrul series. The results indicate that the most important constraint is ease of perception of the difference between forms with and without the -mos morpheme. Known as phonic salience, this factor determines that the greater the phonic salience, the greater the chances are of use of a form with -mos. Since preterit forms tend to fall on the higher levels of salience, there is a par...
ResumoDiscutimos neste artigo o encaixamento linguístico da variação e mudança dos pronomes nós e a gente no português brasileiro. Analisamos as construções nós com o morfema plural -mos (nós moramos/nós morávamos), concordância plural; nós sem o morfema de plural -mos (nós mora/nós morou/nós morava), não concordância; a gente sem o morfema plural -mos (a gente mora/a gente morou/a gente morava), concordância singular. Aná-lises conjuntas destas construções permitem entender dinâmicas sociolinguísticas da implementação de a gente no sistema pronominal do português brasileiro. Ancorados na Teoria da Variação e Mudança (Weinreich / Labov / Herzog 1968) e nas propostas de Naro / Görski / Fernandes (1999), remodeladas por Naro et al. (2017) e Scherre et al. (2014, reanalisamos 774 dados da fala da Baixada Cuiabana (estado do Mato Grosso, Centro-Oeste), variedade com traços característicos nítidos, e 1517 dados da fala de Vitória (capital do Espírito Santo, Sudeste), variedade sem traços característicos nítidos. Verificamos que a Baixada Cuiabana favorece nós e Vitória expande a gente. Ambas privilegiam nós com -mos no pretérito perfeito. A Baixada Cuiabana usa mais nós sem -mos no imperfeito e no presente de forma igual à do pretérito. Para evitar nós sem -mos, Vitória usa mais a gente sem -mos no imperfeito e no presente. Mais usos de nós falamos, a gente falava e a gente fala seguem fluxos de mais concordância em áreas urbanas (Naro / Scherre 2013). Os fatos observados revelam variação linguística ordenada e apontam resolução intuitiva de conflitos sociolinguísticos associados à concordância verbal variável. Palavras-chaveVariação nós e a gente; português brasileiro; encaixamento linguístico; efeitos funcional, cognitivo e estrutural; dimensão geográfica; conflitos sociolinguísticos AbstractIn this paper we discuss the linguistic embedding of variation and change in the 1 st person plural pronouns nós and a gente, both used for 'we' in Brazilian Portuguese. We analyze nós with plural morpheme -mos; nós without plural morpheme -mos; a gente without plural morpheme -mos. Joint analysis of these constructions permits insight into the sociolinguistic dynamics of the entry and implementation of a gente in the pronominal system. Basing ourselves on the Theory of Variation and Change and the proposals of Naro / Gӧrski / Fernandes (1999), Naro et al. (2017), and, we analyze data from the speech of Baixada Cuiabana and Vitória. Baixada Cuiabana exhibits a characteristic way of speaking, whereas speakers from Vitória do not exhibit special or defining speech characteristics. We find that Baixada Cuiabana favors nós, while Vitória prefers a gente. Both areas favor nós with -mos in the preterit. Baixada Cuiabana uses more nós without -mos in the imperfect and in the present with the same form as the preterit. In order to avoid nós without -mos, Vitória uses a gente without -mos more frequently in the imperfect and the present. Greater use of nós falamos 'we spoke' , a gente falava 'we used to speak' and a gente fala 'we spea...
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