O artigo examina a produção, percepção e avaliação linguística do apagamento variável de /R/ em coda silábica no português de Porto Alegre (RS) (mulhe[ɾ]~mulhe[Ø], po[r]que ~ po[Ø]que, dirigi[r] ~ dirigi[Ø]) com base na Teoria da Variação (LABOV, 2008) e em teorias de percepção, atitude e avaliação linguística (LAMBERT et al., 1960, GILES; BILLINGS, 2004, PRESTON, 2003, ECKERT, 2004, 2005, 2008). A revisão de estudos anteriores (CALLOU; LEITE; MORAES, 2002, MONARETTO, 2002, OUSHIRO; MENDES, 2015) sugere que o apagamento de /R/ em coda esteja em progresso nas variedades de português brasileiro. Os objetivos do artigo são (1) esclarecer os fatores linguísticos e sociais correlacionados ao apagamento do /R/ em coda silábica no português de Porto Alegre, (2) verificar se o apagamento possui significados sociais. Realizam-se duas análises: quantitativa (TAGLIAMONTE, 2007) com o software R, em dados de fala de 16 entrevistas sociolinguísticas do LínguaPOA (2015-2019); e um teste-piloto de percepção e avaliação linguística com a técnica dos estímulos pareados (LAMBERT et al., 1960). A análise quantitativa revela que o apagamento de /R/ em Porto Alegre é condicionado predominantemente por variáveis linguísticas e parece estar progredindo na comunidade. O teste-piloto indica que o apagamento é percebido e avaliado no contraste com o não apagamento, sugerindo que a variável faça parte de um sistema de significação social. O mapeamento do campo indexical dos significados sociais da variável (ECKERT, 2004, 2008) sugere que o apagamento indexa significados sociais relacionados a personae menos bonitas e menos jovens.
A realização variável do rótico em coda silábica (a/R/mário, po/R/que, faze/R/) confere ao português brasileiro (PB) falado em Passo Fundo, município situado no Norte do Rio Grande do Sul (RS), um de seus traços caracterizadores. Na maior parte das variedades de PB do RS, as variantes mais frequentes do rótico nessa posição são o tepe alveolar [ɾ] (a[ɾ]mário, po[ɾ]que, faze[ɾ]) e o apagamento (po[ø]que, faze[ø])
O tratamento do significado social na variação sociolinguística organizou-se em três ondas de prática analítica. A primeira onda de estudos de variação estabeleceu amplas correlações entre as variáveis linguísticas e as categorias macrossociológicas de classe socioeconômica, sexo, classe, etnia e idade. A segunda onda empregou métodos etnográficos para explorar as categorias e configurações locais que habitam ou constituem essas categorias mais amplas. Em ambas as ondas, a variação era vista como marca de categorias sociais. Este artigo estabelece uma fundamentação teórica para a terceira onda, argumentando que (a) a variação constitui um sistema semiótico social robusto, que potencialmente expressa toda a gama de questões sociais em uma determinada comunidade; (b) os significados das variáveis são subespecificados, ganham significados mais específicos no contexto dos estilos; e (c) a variação não apenas reflete, mas também constrói o significado social e, portanto, é uma força na mudança social.
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