Introdução: A placenta acreta (AP) é uma condição patológica de placentação grave associada a parto prematuro e alto risco de hemorragia obstétrica maciça intraparto que afeta a saúde materna em todo o mundo. Na última década, estudos mostraram que o crescimento dos casos da AP é atribuído ao aumento da prevalência de parto cesáreo, e o diagnóstico pré-natal demonstrou diminuir a morbidade materna, tornando-se essencial para melhorar o manejo. Contudo, o envolvimento vesical e/ou de vasos pélvicos pode ocorrer, embora seja raro, resultando em mortalidade materna e fetal expressiva. Relato de caso: Paciente com 31 anos, G5 P5C A0, sem comorbidades, iniciou pré-natal de risco em função de quatro cesáreas prévias e, durante acompanhamento, foi diagnosticada com placenta prévia. Com 30,5 semanas, apresentou quadro de sangramento vaginal com duração inferior a 24 horas, sem outros sintomas associados, e compareceu ao pront-socorro do Hospital Universitário, onde foi internada. Evidenciaram-se por meio de ressonância magnética e ultrassonografia placenta prévia total, acrestimo placentário e suspeita de vasa prévia. Durante a internação realizaram-se dois ciclos de betametasona, e com 34,1 semanas foi indicada a interrupção por cesariana após o planejamento do manejo com uma equipe multidisciplinar. Previamente à cirurgia, um cateter duplo J foi inserido pelo urologista e logo em seguida a equipe de hemodinâmica inseriu um cateter em artérias uterinas para embolização, sem intercorrências. Procedeu-se à histerectomia total, na qual se visualizou acretismo placentário sem evidência de invasão a órgãos adjacentes, e a aderência em útero e bexigas foram desfeitas sem necessidade de embolização das artérias uterinas. Conclusão: A forte associação com cesárea e curetagem prévias ocorre pela formação de uma cicatriz que propicia a inserção inadequada da placenta. Feito o diagnóstico de acretismo placentário e possível invasão da bexiga, a conduta aplicada será a histerectomia total abdominal. É de extrema importância uma equipe multidisciplinar composta de obstetra, cirurgião vascular intervencionista, urologista e transfusionista nesses casos. As complicações incluem sangramento excessivo, coagulação intravascular disseminada, secção ou transfixação de um dos ureteres, sendo necessário segura hemostasia e drenagem da cavidade abdominal e, em alguns casos, passagem profilática de um stent ureteral duplo J. Em resumo, a fisiopatologia do espectro da placenta acreta é complexa. O diagnóstico pode ser feito no transoperatório, por ressonância magnética ou ecografia, e o tratamento vai depender do grau de acretismo. Neste caso de desfecho de sucesso, a abordagem pré-operatória multidisciplinar foi fundamental para prevenir lesões de órgãos adjacentes e sangramento descontrolado intraoperatório, impactando significativamente a morbimortalidade materna.
Introdução: O câncer de mama associado à gravidez é uma situação desafiadora, de manejo delicado, em função do dilema entre a terapia ideal para a mãe e o bem-estar do feto. O diagnóstico frequentemente é tardio e dificultado pelas alterações fisiológicas próprias da gestação, de modo que tende a apresentar estágio mais avançado. O objetivo do tratamento, em geral, é o controle locorregional e sistêmico da doença a fim de reduzir a morbimortalidade fetal e materna. Relato de caso: M.C.A., 33 anos, G3P2CA1, sem comorbidade prévias, iniciou acompanhamento com mastologista e pré-natal de alto risco no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, com 19 semanas e três dias. A gestação e o carcinoma foram constatados simultaneamente, após consulta em razão de dor e aparecimento de nódulo em mama esquerda, confirmados na 11ª semana gestacional. A ultrassonografia mamária evidenciava nódulo sólido hipoecoico (BI-RADS 3) e o exame histopatológico mostrou carcinoma mamário invasivo do tipo ductal infiltrante, associado a carcinoma papilífero intracístico grau 3 do tumor de Nottingham. No serviço, apresentava queixa de dor intensa em mama esquerda e, ao exame físico, nódulo palpável de 10 cm em quadrante superior lateral da mama esquerda e nódulo de 1 cm fixo e endurecido em axila esquerda. A paciente foi submetida a quimioterapia (QT) neoadjuvante com antraciclina e taxanos e, após oito sessões, compareceu à maternidade com perda de líquido vaginal, sendo indicada a interrupção por cesárea com 33,5 semanas. Retornou ao consultório com um mês de puerpério apresentando crescimento tumoral e intensa dor. Propôs-se cirurgia antes do fim da QT neoadjuvante pela resposta insuficiente e pela piora clínica local. A paciente foi submetida a mastectomia radical esquerda com esvaziamento axilar, sem intercorrências. Constatou-se carcinoma ductal in situ sem comedonecrose, medindo 6,5x4 cm, com múltiplos focos de invasão capsular de até 1 cm. Estadiamento anatomopatológico pT3N2a. Presença de metástases em quatro de 10 linfonodos, medindo até 1 cm, sem extensão extracapsular. Paciente mantém tratamento com radioterapia adjuvante e seguimento com mastologista e oncologista assistente. Conclusão: A grande maioria das gestantes com câncer de mama é candidata à quimioterapia sistêmica, que pode ser administrada com segurança durante o segundo e terceiro trimestres e risco mínimo ao feto. Estudos recentes revelam pouca diferença na sobrevida de gestantes e não gestantes com câncer. A terapia moderna, associada a equipes multidisciplinares ágeis, é chave para um desfecho favorável como o da paciente relatada, mesmo diante das intercorrências do trabalho departo prematuro e da interrupção da QT antecipadamente.
Introdução: O câncer de mama é atualmente a neoplasia com maior mortalidade no mundo em mulheres, seja em países desenvolvidos, seja naqueles em desenvolvimento. Estudos apontam que podehaver recorrência da neoplasia mamária de até 30% nos casos com linfonodos negativos e de aproximadamente 70% nos casos com linfonodos positivos. Um estudo americano mostrou taxa de recidiva de câncer de mama em 10 anos de 36,8%, dos quais a maior parte ocorreu nos primeiros cinco anos após o diagnóstico (81,9%). Outros diferentes trabalhos afirmam que o período de maior risco para a recorrência do câncer de mama são os primeiros três anos após o tratamento primário. Relato de caso: Paciente de 51 anos, com histórico de quadrantectomia e esvaziamento de mama esquerda em razão de carcinoma ductal invasivo em 2009 (imuno-histoquímica: KI67 40%/HER2 negativo/receptor de estrogênio >75%/receptor de progesterona 0; TNM: T2 N0 M0; linfonodos positivos), quimioterapia neoadjuvante e radioterapia adjuvante, com posterior implante de prótese de silicone na mama esquerda em 2012. A paciente prosseguiu em acompanhamento ambulatorial e, em agosto de 2020, foi detectado nódulo suspeito em região supraclavicular esquerda, optando-se por não fazer punção em razão da presença de importante vascularização local. Prosseguiu-se à investigação com ressonância magnética da mama, a qual revelou uma massa sólida mal definida na região infraclavicular infiltrando os músculos peitorais maior e menor e estendendo-se posteriormente até os vasos axilares, medindo 7,7x5,3 cm, com presença de linfonodos aumentados no mediastino anterior, nódulo BI-RADS 5 em proximidade da prótese. Decidiu-se então realizar nova abordagem cirúrgica em novembro de 2020 por causa da recidiva local, com retirada da prótese e biópsia da lesão, cujo laudo evidenciou carcinoma mamário tipo não especial G3. A paciente evoluiu sem intercorrências, recebendo alta no 1º dia de pós-operatório, com recomendação de retorno ambulatorial para acompanhamento. Conclusão: A neoplasia mamária é uma doença que abrange fatores psicológicos, sexuais e da autoimagem feminina e, infelizmente, a recidiva é uma realidade no carcinoma mamário. Assim, conforme a incidência do câncer de mama está aumentando com o passar dos anos, os métodos de diagnóstico precoce, a terapêutica correta e o acompanhamento contínuo para a identificação de casos de recidiva devem ser constantemente valorizados e aplicados pelo governo e serviços de saúde, para que possa haver melhorias nos desfechos das pacientes acometidas pelo câncer de mama, com o aumento da sua sobrevida e da sua qualidade de vida.
Introdução: As neoplasias da mama afetam principalmente as mulheres na perimenopausa. No entanto, aqueles que estão em plena atividade reprodutiva também podem ser afetados e, embora o carcinoma de mama seja incomum em mulheres jovens, eles geralmente têm um prognóstico pior. Este estudo descreve as características clínicas agressivas e o prognóstico sombrio de um carcinoma de mama invasivo em uma paciente de 21 anos. Relato de caso: T.S., 21 anos, G2P2, primeiro filho aos 16 anos, menarca aos 12 anos, lactante há um ano e oito meses, sem comorbidades e sem história familiar de câncer de mama. Admitida em serviço de urgência ginecológica com nódulo doloroso em mama direita associado a hiperemia local. Foi feita a hipótese diagnóstica de abscesso mamário e a paciente foi conduzida para drenagem cirúrgica de urgência. No intraoperatório, diagnosticou-se nódulo sólido sugestivo de neoplasia, que foi submetido a biópsia incisional com resultado histopatológico de carcinoma ductal tipo não especial grau 3. Estadiamento clínico IV: (cT4d cN1 cM1 - metástases óssea, pulmonar e para linfonodos cervicais). Imuno-histoquímica: RH negativos, HER2 3+, KI67 80%). A paciente foi submetida a quimioterapia neoadjuvante, sem resposta satisfatória, e encaminhada para cirurgia higiênica após a 9ª sessão. Realizou-se tratamento cirúrgico com mastectomia radical direita e, após três meses, mastectomia simples à esquerda em razão de nódulo neoformado cuja biópsia evidenciou carcinoma invasor com diferenciação apócrina. Posteriormente, a paciente evoluiu com metástases cerebrais sintomáticas e óbito que se deu três anos após o diagnóstico da lesão primária. Conclusão: Trata-se de caso de carcinoma mamário em idade extremamente jovem, visto que qualquer protocolo de rastreamento de paciente de alto risco recomenda o início do rastreamento mamário com 25 anos. Por isso, o câncer de mama deve ser sempre aventado como diagnóstico diferencial das mastites, mesmo as puerperais.
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