A ciência é uma forma de conhecimento que foi instituída como a forma de conhecer a verdade única e universalmente válida, assente nas questões epistemológicas e nos critérios de rigor metodológico. O saber leigo, popular, que preenche a vida e orienta a ação quotidiana, busca o significado através do simbólico cultural, no que é o oposto do conhecimento científico. A questão das possibilidades de conhecimento sobre a realidade social situou o debate nos modos de produção de conhecimento e na consequente contingência dessas mesmas produções, o que sustenta a afirmação de que todas as formas de conhecimentos são válidas nos seus contextos de produção. Em matéria de saúde e doença, a produção sociológica tem desvendado os conteúdos do saber leigo e a sua incontestável presença na experiência individual, desde a percepção dos fenômenos no corpo até a relação com a instituição médica. Este texto parte de uma reflexão sociológica sobre a questão do conhecimento. Em seguida, revê o essencial da literatura sociológica sobre o saber leigo de saúde e doença. Finaliza com uma proposta de compreensão dos processos do saber leigo como racionalidades que, na forma de configurações de elementos interdependentes, sustentam as práticas de saúde na vida quotidiana.
ResumoA emergência de sistemas de saúde alternativos dá lugar ao pluralismo de cuidados que corresponde a construções reflexivas de percursos que estão para lá da normatividade da medicina. Essas escolhas leigas correspondem a racionalidades distantes da razão da ciência ao constituírem-se como sistemas explicativos complexos que se referem à experiência subjetiva. Este artigo problematiza o fenômeno 'protagonismos alternativos nas trajetórias de saúde' entendido como as atitudes ativas de construir a própria saúde com recurso a abordagens que não se incluem na biomedicina. O que leva os indivíduos a procurar sistemas 'alternativos' para promover a saúde e lidar com a doença? Como integram esses sistemas no seu cotidiano e como os articulam com o sistema biomédico? Quais as racionalidades leigas que privilegiam na sua configuração explicativa e interventiva os sistemas alternativos? Sendo este fenômeno relativamente recente na sociedade portuguesa e praticamente não analisado sociologicamente, interessa-nos situar os pilares analíticos que baseiam a sua compreensão. Nesse sentido, retomamos as dicotomias clássicas que têm marcado o debate sobre a produção do conhecimento, nomeadamente sobre saúde/doença -diálogos entre ciência e senso comum; entre natureza e cultura; entre racionalidades médica e leigas. Palavras-chave: Saúde; racionalidades leigas; medicinas alternativas; promoção da saúde IntroduçãoA saúde passou de algo que era recebido, quase uma herança familiar, para algo que se constrói no cotidiano. Na modernidade, a saúde adquire um valor e importância crescentes, em virtude da secularização da sociedade que faz com que os indivíduos, distantes das crenças religiosas de outros tempos que lhes prometiam a vida eterna, centrem as suas vidas no "aqui e agora" e se enfoquem na saúde como o meio privilegiado de prolongarem e de se relacionarem com a vida e com o bemestar (Giddens, 2001;Turner, 1995). É fortemente valorizada nos discursos políticos e profissionais, bem como nos discursos leigos em que aparece imbricada na vida cotidiana individual como um "dever" de responsabilidade pelo estilo de vida (Herzlich e Pierret, 1991). A saúde impregna todas as dimensões da vida individual e coletiva -bem-estar, trabalho, vida familiar, cuidados com o corpo etc. -delineando relações intrincadas, enunciadoras da complexidade das interacções modernas entre estrutura e acção, objetividade e subjetividade.
A responsabilidade de procurar orientação médica em caso de doença tornou-se uma imposição interiorizada na generalidade da população a partir de finais do século XIX. A segunda metade do século XX alargou essa preocupação à prevenção do adoecer e, nas últimas décadas do século, à de promoção da saúde, numa estratégia que se caracteriza pela ênfase na capacidade do indivíduo para gerir os riscos. Essa é a normatividade que dá conteúdo ao “saudável” como “estilo de vida” a nível dos comportamentos individuais. A nossa pesquisa sobre o pensamento leigo de saúde mostra que as racionalidades leigas são mais complexas do que supõem os modelos de educação para a saúde e que a subjetividade cultural influencia as avaliações que justificam as escolhas relativas à saúde. Encarar a saúde como projeto que se constrói não é a atitude dominante no pensamento leigo onde saúde (ainda) rima com destino. O texto começa por apresentar a história da construção social de saúde e segue pela apresentação e discussão dos resultados de pesquisa empírica sobre “o saudável”.
ResumoA emergência de sistemas de saúde alternativos dá lugar ao pluralismo de cuidados que corresponde a construções reflexivas de percursos que estão para lá da normatividade da medicina. Essas escolhas leigas correspondem a racionalidades distantes da razão da ciência ao constituírem-se como sistemas explicativos complexos que se referem à experiência subjetiva. Este artigo problematiza o fenômeno 'protagonismos alternativos nas trajetórias de saúde' entendido como as atitudes ativas de construir a própria saúde com recurso a abordagens que não se incluem na biomedicina. O que leva os indivíduos a procurar sistemas 'alternativos' para promover a saúde e lidar com a doença? Como integram esses sistemas no seu cotidiano e como os articulam com o sistema biomédico? Quais as racionalidades leigas que privilegiam na sua configuração explicativa e interventiva os sistemas alternativos? Sendo este fenômeno relativamente recente na sociedade portuguesa e praticamente não analisado sociologicamente, interessa-nos situar os pilares analíticos que baseiam a sua compreensão. Nesse sentido, retomamos as dicotomias clássicas que têm marcado o debate sobre a produção do conhecimento, nomeadamente sobre saúde/doença -diálogos entre ciência e senso comum; entre natureza e cultura; entre racionalidades médica e leigas. Palavras-chave: Saúde; racionalidades leigas; medicinas alternativas; promoção da saúde IntroduçãoA saúde passou de algo que era recebido, quase uma herança familiar, para algo que se constrói no cotidiano. Na modernidade, a saúde adquire um valor e importância crescentes, em virtude da secularização da sociedade que faz com que os indivíduos, distantes das crenças religiosas de outros tempos que lhes prometiam a vida eterna, centrem as suas vidas no "aqui e agora" e se enfoquem na saúde como o meio privilegiado de prolongarem e de se relacionarem com a vida e com o bemestar (Giddens, 2001;Turner, 1995). É fortemente valorizada nos discursos políticos e profissionais, bem como nos discursos leigos em que aparece imbricada na vida cotidiana individual como um "dever" de responsabilidade pelo estilo de vida (Herzlich e Pierret, 1991). A saúde impregna todas as dimensões da vida individual e coletiva -bem-estar, trabalho, vida familiar, cuidados com o corpo etc. -delineando relações intrincadas, enunciadoras da complexidade das interacções modernas entre estrutura e acção, objetividade e subjetividade.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
customersupport@researchsolutions.com
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.