Dados sobre características sociodemográficas da população brasileira e de localização de empregos e serviços públicos nas cidades do país são fundamentais para o desenvolvimento de diversas pesquisas e políticas públicas. No entanto, esses dados no Brasil muitas vezes são de difícil acesso, ou são disponibilizados em resoluções espaciais conflitantes, e exigem uma grande capacidade computacional para seu processamento adequado. Este texto para discussão apresenta a base de dados sociodemográficos e uso do solo criada no Projeto Acesso a Oportunidades, bem como descreve os métodos utilizados em seu desenvolvimento. A base de dados consiste em uma grade de hexágonos de alta resolução (área 0.11 km2) que agrega as informações sobre a distribuição espacial da população (segundo idade, sexo, renda, cor/raça), de empregos e de serviços públicos, como escolas (nível infantil, fundamental e médio), estabelecimentos de saúde (serviços hospitalares e ambulatoriais de baixa, média e alta complexidade) e centros de referência de assistência social (Cras). Nesta versão, a base de dados traz essas informações para as maiores cidades do Brasil. Esta base é publicamente disponibilizada pelo Ipea pelo site do Projeto Acesso a Oportunidades e por meio do pacote de R aopdata. Espera-se que este trabalho facilite que pesquisadores e gestores públicos possam mais facilmente acessar e utilizar dados de alta qualidade nos processos de tomada de decisões de planejamento e política públicas.
Facilitar o acesso da população mais pobre a educação e essencial para reduzir desigualdades e promover inclusão social. Estudos recentes tem explorado a dimensão espacial da desigualdade no acesso a educação. No entanto, poucos desses estudos analisam se a população teria acesso suficiente a estabelecimentos de educação nas cidades brasileiras, e como essas condições de acessibilidade variam espacialmente e afetam especificamente a população de menor renda. Este estudo apresenta a primeira analise em larga escala de acessibilidade as oportunidades de educação no ensino publico das vinte maiores cidades do Brasil em alta resolução espacial. Este trabalho foca nas condições de acesso de crianças e jovens de baixa renda as escolas de nível infantil e médio, onde se encontram os maiores desafios de universalização da educação no pais. Considerando-se a acessibilidade a pé e por transporte publico, o estudo investiga a exclusão social relacionada a educação na escala intraurbana, bem como entre cidades e regiões, ao analisar diferentes linhas de insuficiência (LIs) de acessibilidade. Os resultados indicam que ainda são necessários significativos avanços em direção a universalização do acesso a educação no Brasil, principalmente quando são consideradas as vagas publicas de ensino infantil e médio. Parte substancial das crianças de famílias mais pobres possui acessibilidade insuficiente a escolas de educação infantil e ensino médio, principalmente em áreas de baixa densidade populacional nas periferias urbanas. A baixa densidade dessas áreas cria um desafio para a implantação de escolas em numero e cobertura espacial suficientes para melhorar o acesso escolar. Os resultados do estudo contribuem para o melhor entendimento da dimensão geográfica da insuficiência de acessibilidade a educação da população mais pobre, que pode ocasionar sua exclusão das mais diversas oportunidades essenciais ao longo da vida e aprofundar níveis de pobreza e desigualdades sociais.
A organização espacial das cidades tem importantes implicações para a sua sustentabilidade ambiental. Diversos estudos têm analisado características da forma urbana que podem ter diferentes impactos ambientais ao influenciar padrões de mobilidade mais ou menos sustentáveis. No entanto, a maioria desses estudos faz análises empíricas sem um fundamento teórico sobre os canais de causalidade entre forma urbana e padrões de mobilidade. Além disso, a maioria desses estudos analisa cidades em países desenvolvidos, e existem poucas evidências sobre a relação entre forma urbana e mobilidade sustentável no sul global e Brasil. Neste estudo, analisamos como a organização espacial das cidades brasileiras impacta o consumo de energia na sua mobilidade urbana. Primeiro, apresentamos uma análise descritiva de como as cidades no Brasil têm se desenvolvido espacialmente entre 1990 e 2015. Em seguida, usamos análises de regressão para captar em que medida o consumo de energia per capita no transporte individual motorizado das 182 maiores aglomerações urbanas do país é impactado por diferentes características de forma urbana (densidade populacional; mix de uso do solo; compacidade e contiguidade; além da densidade de interseções, conectividade e sinuosidade do sistema viário). As análises de regressão são construídas com base em um Grafo Acíclico Dirigido (DAG) que propomos para mapear os canais causais entre forma urbana e energia no transporte a partir de extensa revisão da literatura. Constatamos que houve um aumento geral da densidade populacional nas cidades brasileiras entre 1990 e 2015. No entanto, as cidades médias ficaram mais espraiadas e fragmentadas, enquanto as cidades grandes ficaram ligeiramente mais compactas e contíguas. Os resultados das regressões apontam que maiores níveis de mix de uso do solo e densidade populacional e compacidade levam a menor uso de energia na mobilidade. No entanto, o efeito da compacidade depende do tamanho da cidade, de maneira que maior compacidade leva a maior consumo energético em grandes cidades, possivelmente refletindo deseconomias de aglomeração. Esses resultados têm implicações mais amplas, mostrando a necessidade de uma visão integrada de políticas locais de uso do solo e transporte para promover cidades menos dependentes do automóvel e padrões de mobilidade mais sustentáveis.
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