O campo interdisciplinar de reflexões sobre a alimentação como campo político passa por um processo de expansão e transbordamento para a esfera privada, cotidiana e rotineira do consumo alimentar. Tal processo parece ser reflexo de transformações nos mercados agroalimentares globais, da ampla percepção e publicização dos riscos alimentares e da politização do consumo. Uma vez que os indivíduos assumem responsabilidades sobre as consequências ambientais e sociais de suas escolhas cotidianas, a especificidade política da alimentação nas sociedades contemporâneas extrapola a esfera institucional (segurança alimentar e nutricional, desigualdades sociais no acesso à alimentação, políticas agrícolas e regulamentação da publicidade de alimentos) para atingir a esfera privada. O artigo aborda alguns dos recentes debates sobre o processo de politização do consumo e faz uma reflexão teórica sobre as dimensões ética, política e ideológica que relacionam hábitos de consumo alimentar, incluindo locais e formas de aquisição e preparo dos alimentos, valores de preservação ambiental, solidariedade com pequenos produtores locais e precaução reflexiva ante os riscos alimentares. Aponta ainda uma agenda de pesquisa capaz de captar processos de politização da comida e práticas de consumo político no campo da alimentação.
O artigo se volta para uma apresentação das contribuições do sociólogo inglês Alan Warde sobre as teorias das práticas, enfatizando análises que buscam compreender os fenômenos do consumo nas sociedades contemporâneas. Nesse sentido, procura discutir as noções centrais ao conceito de práticas e suas implicações nas análises da esfera do consumo. Além disso, agrega abordagens que visam constituir um aporte teórico pertinente a uma emergente sociologia do consumo.
O objetivo é refletir sobre processos de ambientalização e politização do consumo e do cotidiano, enfatizando o multifacetado campo da alimentação. O artigo se volta para os diferentes usos das práticas de compra de alimentos orgânicos, entendendo os consumidores como atores sociais. A problemática central encontra-se nas seguintes questões: as práticas de compra de alimentos orgânicos são percebidas como forma de ação política? De que forma os consumidores lidam com os discursos e cobranças de responsabilidades pela crise ambiental? Com uma etnografia das práticas de compra de alimentos orgânicos e entrevistas em profundidade, o artigo identifica um aumento da autonomia política individual no encontro das esferas pú-blica e privada no campo do consumo. A compra de orgânicos é percebida como um repertório de ação política romântico-individualista, sendo que essas práticas alimentam pontes com a cidadania, abrindo possibilidades para novos engajamentos coletivos. PALAVRAS-CHAVE: ambientalização e politização do consumo, cotidiano, práticas de compra, alimentação orgânica. INTRODUÇÃOA politização da esfera do consumo se refere à percepção e ao uso das práticas e escolhas de consumo como uma forma de participação na esfera pública nas sociedades contemporâne-as.1 Trata-se de um processo que apresenta estreita relação com a ambientalização da vida cotidiana, percebida com mais intensidade a partir dos anos 1990. Ambos os processos tratam da tentativa de dar concretude à adesão dos agentes consumidores a valores em prol de melhorias sociais e ambientais, materializando-os e tornando-os públicos (Portilho, 2005;Stolle et al, 2005).Com isso, as ações e escolhas mais triviais e cotidianas passam a ser percebidas como capazes de influenciar os rumos globais, ao mesmo tempo em que se tornam globalmente influenciadas (Giddens, 1997). Ações como boicotes e buycotts 2 (Stolle et al, 2005), além das diversas formas de racionalização no uso doméstico de bens e serviços, como água, energia, automóvel, separação de resíduos, entre outros (Portilho; Castañeda, 2009), destacam-se como práticas politizadas, em um contexto neomoderno 3 (Alexander, 1995).O uso político do consumo não constitui uma novidade, mas essas táticas tornam-se específicas e predominantes nas sociedades con-* Doutorando em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA/UFRRJ). celocastaneda@gmail.com 1 O uso das práticas de consumo como forma de "participação na esfera pública" e "ação política" constitui questão emergente para a investigação das ciências sociais contemporâneas. Essas questões se somam aos temas recorrentemente pesquisados nos Estudos do Consumo, como destacado por Portilho (2008): a reprodução material e simbó-lica, a construção, fortalecimento e marcação de identidades, a distinção social, a comunicação, o pertencimento, a cidadania e a sociabilidade.2 O neologismo buycott tem sido utilizado na língua inglesa como contraponto à noção de boycott. Enquanto esse últi-mo refer...
O artigo procura analisar as práticas e os fluxos da operação de uma organização que usa a internet de forma intensa, a Avaaz, Á luz da teoria do ator-rede na vertente elaborada por Bruno Latour. Para tal, começa por apresentar essa vertente teórica que procura inserir objetos materiais na análise sociológica de modo a caracterizar esta organização de campanhas como um conjunto heterogêneo composto por humanos e não humanos que se configuram a cada campanha lançada. O artigo se concentra na caracterização dos membros da Avaaz, sua distribuição ao redor do mundo, os alertas de e-mail que são enviados aos membros, as oportunidades de participação oferecidas, os diferentes temas abordados e os alvos construídos a cada campanha.
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