Bancos de dados linguísticos de fala - especialmente aqueles elaborados para a pesquisa de orientação sociolinguística variacionista - têm sido fonte privilegiada para a descrição do português brasileiro. Neste texto, discutimos procedimentos metodológicos que deveriam ser adotados para a organização de novos bancos de dados. Fazemos um breve retrospecto dos bancos de dados já constituídos e sugerimos a coleta e expansão de corpora de diferentes comunidades de fala - e de diferentes comunidades de prática. De acordo com proposta defendida por Eckert (2012), os estudos sociolinguísticos podem ser distinguidos em três ondas de análise que refletem modos distintos de abordagem à variação linguística. Sugerimos estratégias para padronizar os procedimentos de organização de bancos de dados sociolinguísticos que levem em conta as três diferentes ondas da pesquisa sociolinguística, e destacamos a terceira onda, ainda incipiente no Brasil. A padronização dos bancos de dados sociolinguísticos facilitaria a realização de investigações contrastivas de diferentes dialetos brasileiros, contribuindo, dessa forma, para o estabelecimento e refinamento de generalizações e princípios de variação e mudança universais.
Resumo: Em decorrência da gramaticalização, a forma daí foi estendida a diversos empregos gramaticais no português brasileiro. Sob os auspícios do quadro teórico do funcionalismo lingüístico, investigo esses processos de mudança. Para tanto, utilizo: (i) dados extraídos de textos escritos em português do século XIII ao século XX; (ii) 48 entrevistas do Banco de Dados VARSUL, que foram coletadas ao longo da última década do século XX. Com base em evidências sintáticas, semânticas e pragmáticas, proponho trajetórias provavelmente seguidas por daí, partindo de usos dêiticos espaciais e chegando a usos conectivos, em que estabelece elos entre segmentos do discurso. Quatro mecanismos parecem estar envolvidos nesses processos de mudança: metáfora, metonímia, reanálise e analogia. Palavras-chave: daí; gramaticalização; mecanismos de mudança Abstract: As an outcome of grammaticalization, the form daí has been conveyed to several grammatical functions in Brazilian Portuguese. Under the theoretical guideline of linguistic functionalism, I investigate these processes of change. To this end, I make use of: (i) data from texts written in Portuguese from XIII century to XX century; (ii) 48 interviews from the VARSUL Data Base, which were collected during the last decade of the XX century. Based in syntactic, semantic and pragmatic evidence, I propose trajectories probably followed by daí from spatial deictic uses to connective ones, establishing cohesive links between discourse segments. Four mechanisms seem to act over these change processes: metaphor, metonymy, reanalysis and analogy. Keywords: daí; grammaticalization; mechanisms of change Resumen: En consecuencia de la gramaticalización, la forma daí se ha extendido a múltiples usos gramaticales en el portugués brasileño. Bajo el auspicio del marco teórico del funcionalismo lingüístico, investigo
Neste texto, à luz de uma perspectiva de interface variação-gramaticalização, abordo o uso dos verbos IR e PEGAR na perífrase V1 (E) V2, em que V2 é o verbo principal e IR e PEGAR são os verbos gramaticais auxiliares cuja função é indicar aspecto global. Quanto mais integrado estiver o verbo auxiliar ao verbo principal, mais avançado estará o processo de gramaticalização do verbo auxiliar. Com o objetivo de mensurar o grau de integração entre PEGAR e IR a V2 em diferentes comunidades de fala, analisei três fatores: presença da conjunção E entre V1 e V2, presença de pausa entre V1 e V2 e presença de material interveniente entre V1 e V2. Utilizei dados extraídos dos corpora Discurso & Gramática de Natal (RN) e do Rio de Janeiro (RJ), e do corpus do Banco de Dados VARSUL de Florianópolis (SC). Os resultados, obtidos através de análise quantitativa, mostram que: (i) em Natal, o comportamento de IR e de PEGAR é similar; (ii) no Rio de Janeiro, IR é mais frequente em perífrases sem a conjunção E e sem pausa, o que indica um maior grau de integração a V2; (iii) em Florianópolis, é PEGAR que manifesta um maior grau de integração a V2. Essas diferenças revelam um maior avanço do processo de gramaticalização de IR no Rio de Janeiro e de PEGAR em Florianópolis. Em Natal, a gramaticalização de ambos os verbos parece estar no mesmo estágio.
Com base em uma perspectiva de interface variação-gramaticalização, trato do uso variável dos verbos IR e PEGAR na perífrase V1 (E) V2. Faço uso de dados de fala extraídos dos corpora Discurso & Gramática referentes a Natal e ao Rio de Janeiro, e ao corpus VARSUL referente a Florianópolis. Tenho por objetivo analisar o gênero textual como fator condicionador da escolha entre IR e PEGAR para desempenhar o papel de V1 na perífrase V1 (E) V2. Os resultados mostram que IR é favorecido em relatos de procedimentos e relatos de opinião e PEGAR em narrativas de experiência pessoal e narrativas vicárias. É provável que IR e PEGAR tenham iniciado seu processo de mudança em gêneros narrativos, em que a perífrase V1 (E) V2 é mais frequente em várias línguas. Sendo assim, o fato de IR ser favorecido em gêneros textuais diferentes dos narrativos pode ser interpretado como um indício de que está mais avançando no processo de gramaticalização do que PEGAR.
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