Resumo Com o processo de ampliação do ensino fundamental, as crianças de seis anos foram inseridas em relações de poder-saber diferenciadas. Ao longo de uma investigação, realizada com o uso de técnicas etnográficas articuladas à análise de discurso foucaultiana, em uma turma de primeiro ano do ensino fundamental de uma escola pública da rede municipal de Belo Horizonte, foi possível perceber que, entre essas novas relações de poder-saber, destacam-se aquelas que articulam o dispositivo de antecipação da alfabetização (que preconiza que as crianças devem estar alfabetizadas ao final do primeiro ano de escolarização), o dispositivo de infantilidade e a tecnologia de gênero. Tendo em vista essa articulação, este artigo tem como objetivo discutir como se dá a produção de corpos generificados nesse currículo. Argumenta-se que a articulação do dispositivo de infantilidade com a tecnologia do gênero é posta em funcionamento no currículo que opera com a antecipação da alfabetização por meio de técnicas de distinção (que separam “coisas de meninos de coisas de meninas”, geralmente infantilizando-os/as) e técnicas de responsabilização (que responsabilizam professoras, alunos/as e famílias a assumirem certas funções, tendo em vista o seu gênero) com implicações tanto no processo de alfabetização, como no processo de construção do gênero de meninos/as e professora.
Este artigo analisa dois contos de fadas contemporâneos para problematizar as prescrições de feminilidades presentes nas histórias clássicas dos contos de fadas e nos discursos reacionários que circulam na atualidade. Argumentamos, a partir do conceito de performatividade de Judith Butler, que, por um lado, a ofensiva antigênero prescreve que a mulher deve ser princesa e coloca em circulação um discurso reacionário que produz modos autorizados de se performar o gênero em conformidade com os contos de fadas tradicionais. Por outro lado, como forma de resistência, alguns contos de fadas contemporâneos tensionam as normas de gênero e acionam o discurso multicultural para re-existirem ao discurso reacionário ao produzirem modos outros de ser princesa. O referencial teórico se fundamentou na concepção de que o currículo é cultural, é um discurso que produz, autoriza, cria saberes e se desdobra em diferentes pedagogias. Nesse sentido, as narrativas dos contos de fadas, tão presentes no currículo endereçado a crianças, compõem um certo roteiro com relação às aprendizagens de gênero. Elas ensinam, há muito, normas para meninas e meninos, prescrevendo feminilidades e masculinidades tidas como normais. Mas, também podem ser potentes instrumentos para problematizar essas mesmas normas. Nas histórias analisadas é possível perceber a reivindicação de outros “atos performáticos de gênero” (BUTLER, 2019) em relação aos roteiros vividos pela princesa. A trajetória metodológica se deu por meio da análise de discurso de inspiração foucaultiana e mostrou que as narrativas fabricam modos outros de apresentar os comportamentos da princesa e pluralidade na caracterização dos corpos das personagens.
Resumo: Este trabalho analisa materialidades discursivas que foram produzidas durante sobre invasões on-line efetuadas em aulas, palestras e/ou lives, no decurso da pandemia da Covid-19, com vistas a relacionar como o gênero e a sexualidade são acionados para produzir violência e, desse modo, cercear o debate produzido em diversas instâncias das mídias digitais. Para tanto, ancora-se, principalmente, nas teorizações de Foucault (2007;2010), acerca do discurso, do poder e o dispositivo da sexualidade. A produção da violência encontra-se intimamente relacionada ao gênero e à sexualidade, uma vez que as estratégias usadas nas invasões valem-se de insultos verbais e a da exposição de imagens pornográficas que inserem a mulher num lugar de submissão.
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