Esse artigo retoma uma importante tradição da Geografia brasileira: os relatos de campo. Ele apresenta a visão de pesquisadores que, durante 10 dias de maio de 2019, percorreram o rio Branco para visitar 16 comunidades em Roraima. Ao longo do período foram utilizadas diferentes técnicas de pesquisa, como a coleta de depoimentos de membros das comunidades por meio de entrevistas informais, rodas de conversa com lideranças, o registro fotográfico e em vídeo, assim como anotações de observações em campo. Também foram realizadas análises a bordo entre os membros da equipe que culminaram na produção desse artigo. O objetivo da pesquisa é conhecer e identificar potenciais, carências e vivências de comunidades que vivem à beira de rios em Roraima. O relato constatou que as comunidades estão sujeitas a lógicas externas, como o turismo internacional, que afeta drasticamente o modo de vida, bem como dependem de centros urbanos, como Boa Vista e Manaus, para escoar sua produção, baseada no extrativismo. Ainda assim, observou-se que as comunidades conseguem expressar o bem viver, posto que não desejam abandonar os lugares onde vivem. Por fim, verificou-se também que o cotidiano das mulheres é diferente dos homens, seja na participação da produção de farinha ou na pesca, seja no lazer.
O uso dos rios para geração de energia por meio de hidrelétricas causa diferentes impactos, tanto ecológicos e econônicos, quanto sociais. Dentre eles, a (des)territorialização das populações no entorno do reservatório constitui um dos mais conflituosos, visto que, o deslocamento é compulsório, e o processo de reassentamento não apresenta, necessariamente, a restituição das atividades diárias, causando um (re)ordenamento em seus territórios. Nesse sentido, o objetivo do artigo é comparar dois povoados (des)territorializados por hidrelétricas: um na Amazônia/Brasil, chamado de Teotônio, e o outro na Catalunya/Espanha, denominado Tiurana, de modo a demonstrar as principais dificuldades no processo de (re)territorialização. Para o desenvolvimento metodológico considerou-se povoados que apresentassem semelhanças, tais como: características de povos tradicionais, que fossem totalmente atingidos pelo reservatório das usinas hidrelétricas e que tenham sido reassentados. Os dados foram coletados por meio de questionários semiestruturados para a obtenção de informações comparativas entre as atividades exercidas no antigo povoado e no atual. Os resultados demonstram que mais de 90% dos entrevistados em Teotônio/Brasil e 65% em Tiurana/Espanha apresentam dificuldades no restabelecimento das suas atividades econômicas, chegando até mesmo a não mais exercê-las. A conclusão é que, em ambos os casos, o uso dos rios tem sido para atender às necessidades dos grandes centros industriais, enquanto os povoados afetados pelo reservatório, ao serem reassentados, não têm o restabelecimento de suas atividades essenciais garantidas, resultando no esvaziamento do novo lugar, tornando-o apenas um memorial
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