Vito Acconci (1940-2017) iniciou sua carreira no final da década de 1960 como poeta, mas logo ficaria conhecido como um polêmico artista performático que utilizava seu próprio corpo para desestabilizar o espectador, arrancá-lo de sua posição neutra e isolada perante a arte. As performances que realizou na década de 1970 investigavam o papel tanto do artista quanto do espectador na manutenção de relações de poder implícitas nos espaços institucionalizados da arte. Porém, a própria performance seria institucionalizada e cooptada a partir da década de 1980, quando também passou a ser promovida como espetáculo por museus e galerias. Acconci decidiu, então, retirar seu corpo e sua figura pública (que se tornara famosa) de cena, deslocando sua atenção para o espaço público, a arquitetura e o design, investigando-os enquanto dispositivos velados de poder. Em 1988 fundou um estúdio colaborativo de design cuja produção ofuscava as fronteiras entre arte e arquitetura. Embora essa mudança em sua trajetória pareça abrupta, buscaremos demonstrar como o desenvolvimento de sua produção artística foi dando corpo à formulação de problemas teóricos que o levaram a se aproximar de forma coerente, embora ambígua, do campo de atuação do design e da arquitetura.
Para Fredric Jameson a pós-modernidade é marcada pela confluência entre as esferas da economia e da cultura. O capitalismo “tardio” já não pode ser visto apenas como um sistema econômico, já que se torna parte constitutiva da “cultura”, que por sua vez passa a operar de outra forma, gerando novas sensibilidades e sociabilidades. Também a arte, nesse cenário, passa a buscar novas formas de inserção social, já que ao artista é cada vez menos possível posicionar-se fora do sistema. Ao artista crítico resta agir de maneira tática, operar no interior do sistema instituído, dentro de sua lógica, explicitando seu funcionamento e desmascarando ocultações necessárias para sua manutenção. Nesse contexto, nosso intuito é desenvolver uma reflexão a partir da análise de alguns trabalhos desenvolvidos pela artista Andrea Zittel, abordando a noção do artista como marchand e empresário de si mesmo presente em projetos como “A to Z Administrative Services”, uma empresa a partir da qual a artista cria, produz, e divulga objetos e serviços cujo principal intuito seria infiltrar-se no universo da vida cotidiana fazendo com que o espectador se confronte criticamente com sua própria realidade existencial. A partir da análise de uma parcela da produção desta artista, buscamos maior compreensão sobre as possibilidades da arte enquanto prática crítica no interior da cultura contemporânea.
A produção da artista Ana Maria Tavares é lembrada pelo diálogo crítico que estabelece com a construção do espaço contemporâneo, especialmente com a arquitetura e o design. Se nas décadas de 1990 e 2000 suas propostas colocavam em questão a configuração dos espaços de trânsito e consumo e suas bem arquitetadas “armadilhas”, a última década marca uma redefinição em sua trajetória. Através da análise da exposição “Atlântica moderna: Purus e Negros”, realizada em 2017 no Museu da Vale em Vitória-ES, investigamos o significado da incorporação de peças feitas em crochê em sua produção. Tomando como referência importante a obra da arquiteta Lina Bo Bardi, e em especial seu encontro com o “pré-artesanato” nordestino, Tavares atribui novas camadas à visão política e antropológica que a arquiteta tinha frente ao popular nos anos 1960, incorporando questões que envolvem as relações entre arquitetura, paisagem e natureza.
Uma manifestação autônoma é aquela que se autogoverna, segue um conjunto de leis internas e pode ser estudada isoladamente de seu contexto. Dizer que a arquitetura é uma manifestação autônoma é tomá-la como uma área do conhecimento que não é atingida pelas forças externas ao seu campo de atuação. Mas a arquitetura se vincula com questões urbanas, com as forças sociais, econômicas e culturais em curso. Por isso, no início dos anos 1970, o arquiteto suíço - francês Bernard Tschumi defendia que, para além de tratar de suas próprias preocupações e problemas intrínsecos (como conceber espaços harmônicos, aprazíveis e ao mesmo tempo funcionais), a arquitetura também deveria partilhar preocupações e problemas com outros campos do saber.
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