No decorrer do século XX o movimento feminista atingiu muitas de suas maiores conquistas. No entanto, por mais que alguns valores e comportamentos sociais tenham se alterado, outros permaneceram irredutíveis. Dentre esses, um em especial é nesse trabalho discutido: a perpetuação da “moça de família”. Partindo de orientações metodológicas da História Oral, procurei investigar como mecanismos culturais operam no processo de socialização de um indivíduo, principalmente, buscando compreender em que medida a educação familiar contribui para a constituição de uma identidade de gênero. Por meio das memórias colhidas em entrevistas de mulheres de minha família, pude traçar um perfil comum entre todas elas: as mulheres Escoura são “moças de família”, dispostas a seguirem rígidas normas comportamentais para atingirem seus sonhos românticos, uma vez que quanto mais elas se assemelharem com o ideal de feminilidade, estabelecido socialmente, maiores serão as chances de encontrarem um príncipe encantado e fazer um bom casamento, analogamente ao clássico conto da Cinderela.
O método comparativo durante muito tempo serviu de base para a discussão metodológica na Antropologia. A partir deste pano de fundo, Marilyn Strathern destacou- se como um nome fundamental no campo teórico e fez de suas etnografias na Melanésia uma chave de comparação e contraposição ao ocidente. Escrevendo no entremeio dos anos de 1980 e entre as críticas epistemológicas pós-modernas que abalaram os alicerces das Ciências Humanas, a antropóloga apoiou-se em um movimento teórico-metodológico que colocou em suspensão não só dados etnográficos, mas também conceitos fundantes da disciplina antropológica. Neste artigo retomamos o percurso metodológico de Marilyn Strathern para evidenciar suas estratégias de análise e os deslocamentos das noções de indivíduo e sociedade que ela provocou ao aproximar a antropologia e o feminismo. Ao mesmo tempo, buscamos colocar em prática seu exercício metodológico e ao trazer Donna Haraway e Judith Butler para o diálogo, buscamos evidenciar como as noções de conexões parciais, hibridismo e criação de ciborgues podem revelar expansões e alargamentos na própria teoria stratherniana.
In Brazil, the sector of events and ceremonies had nearly US$5 billion in revenue in 2015, although more than just money revolves around this market. In this article, I accompany brides and grooms in the process of organizing their wedding celebrations between the geographic and economic extremes of the city of São Paulo. I demonstrate that in the Zona Leste [eastern zone] of the capital, in contrast to stores for the upper classes, the physical space of the market for bridal dresses is constantly claimed as a field of feminine power and that the time for preparation of weddings, in turn, is the materialization of a moral regime that is inclined toward collectivization. From relatives to God, everyone is involved in organizing weddings. Thus, I highlight how the territorial constitution of São Paulo - and the economic nuances impressed in the geographic distribution - alters social dynamics and transforms weddings into particularly distinct enterprises from one side of the city to another.
Resumo: O presente artigo tem como objetivo refletir sobre o modo como são pensadas e efetivadas as políticas públicas para educação de jovens e adultos no Brasil. Concentra-se em analisar a atual conjuntura de EJA de modo a questionar a funcionalidade de apenas um modelo de currículo que se impõe a todo o universo da EJA. Práticas pedagógicas com base em uma perspectiva de letramento, transformações no projeto político-pedagógico das escolas e investimentos em políticas públicas para a modalidade são alguns caminhos discutidos para orientar a elaboração de novas propostas curriculares para EJA. Pretende-se, com isso, argumentar a favor de um olhar voltado para propostas que se descolem do modelo convencional de escola e que atentem a fatores sociais, culturais e históricos que constituem os sujeitos da EJA.Palavras-chave: Educação de jovens e adultos. Letramento. Proposta curricular. Política educacional.
Em 2015, quando esta pesquisa se iniciou, o mercado de festas de casamentos faturou R$ 17 bilhões no Brasil e, nesse cenário, é comum profissionais repetirem que o casamento é a "festa da noiva". Entretanto, a partir da análise de materiais de pesquisa de campo em São Paulo (SP) e Belém (PA) mostro, neste artigo, que a direção e o controle do casamento não são necessariamente privilégios femininos. Nesta pesquisa, meu objetivo central foi compreender a forma como relações são mobilizadas, forjadas e rompidas no processo de organização de festas de casamento. A despeito da ocasião se pretender um instante de celebração de novas alianças, na discussão coloco ênfase no caráter antagônico das relações. E olhando para aquilo que seria pressuposto como a antítese do momento de comunhão festiva, os confitos, evidencio o quanto fazer a festa, entretanto, era estar em estado de guerra. Textualmente, em um primeiro momento problematizo as dinâmicas entre noivas e noivos buscando desestabilizar convenções de gênero implicadas na composição de tais eventos. Nesse movimento, tensiono os limites da noção de “indivíduo” pressuposta pelas interações comerciais e abro a primeira camada de análise sobre o casamento enquanto um espaço-temporal de inevitável relacionalidade. Em seguida, mostro como há muitos outros personagens, além dos noivos, disputando poder de mando e seus lugares como donos da festa, numa dinâmica em que as hierarquias familiares são negociadas frente à hierarquia da própria celebração. E se as brigas pela denição do grupo antrião evidenciam que o casamento está longe de ser a “festa da noiva”, acompanhando especialmente a batalha em torno da lista de convidados e o manejo prático das relações de parentesco nela implicada, argumento como o casamento se estabelece como uma festa de família e que produz, pelos conitos, a própria família.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
customersupport@researchsolutions.com
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.
Copyright © 2025 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.