A evolução que vem sofrendo a neuropsiquiatria em S. Paulo tornou imperativo o aparecimento deste novo orgão científico. "Arquivos de Neuro-Psiquiatria" surgem sob a direção do docente livre de Clinica Neurológica da Faculdade de Medicina da Universidade de S. Paulo, dr. Oswaldo Lange, a cujos esforços e perseverança se deve a transposição dos inumeráveis obstáculos iniciais que dificultam quando não impossibilitam, entre nós, uma realização desta natureza. Foi, sem duvida, à sua tenacidade, alimentada pela certeza de servir a um elevado ideal que se deve a demonstração de que o clima científico em S. Paulo comporta, ou melhor, exige a existencia de mais de uma publicação especializada no terreno da neuropatologia.O retardo na publicação de estudos ou sua publicação em revistas não especializadas representa inquestionavelmente grave inconveniente, cujas consequencias vinham sentindo principalmente os dois serviços de clínica neurológica escolares de S. Paulo: o da Universidade e o da Escola Paulista de Medicina. Na qualidade de responsaveis dirétos por esses centros de estudos, oriundos da bifurcação que resultou da vitalidade da arvore plantada por Enjolras Vampré determinamos unir nossos esforços e o de nossos assistentes para prestigiar em todos os sentidos a nova publicação, veiculando, por seu intermedio, o produto do nosso labôr na especialidade. Com o aparecimento do primeiro número é grande portanto a nossa satisfação, visto com primeiras fases.
PAULO PINTO PUPOOLAVO PAZZANESE OCTAVIO LEUÍMI A. MATTOS PIMENTAO registro da atividade elétrica cerebral, assim como a identificação das verdadeiras "tempestades elétricas" cerebrais ocorridas durante as cri ses epiléticas foram feitos, pela primeira vez, por Berger (1929Berger ( -1932 O método utilizado por esses diversos pesquisadores varia em pequenos detalhes, mas, em síntese, consiste no registro do traçado eletrencefalográfico com o auxílio de eletrodos especiais aplicados diretamente sobre o córtex cerebral exposto durante a intervenção cirúrgica. E' um exame complementar da eletrencefalografia que vem permitir mais precisa localização do foco epileptógeno, já individualizado por aquela, pela obtenção de traçado livre da distorção motivada pela distância variável entre os eletrodos, colocados sobre o couro cabeludo e o foco cerebral.A eletrocorticografia permitiu grande progresso na terapêutica neurocirúrgica da epilepsia, por isso que, sendo o foco ativo epileptógeno uma fonte de distúrbio essencialmente funcional, o seu exato reconhecimento, seja na periferia de foco lesional, seja em plena circunvolução macroscò-picamente normal, é absolutamente necessário para que possa ser inteiramente extirpado pelo neurocirurg.ão.
A razão de ser das considerações que passaremos a expor reside no caráter prático das mesmas, não sómente no que diz respeito a algumas particularidades observadas no exame dos doentes, como também pelos aspectos muitas vezes curiosos verificados por ocasião da prática dos exercícios de reeducação.Tôdas as observação aqui referidas apresentam muitas deficiên-cias porque tôdos os doentes são de clínica particular -quatro da clí-nica do Prof. Paulino W. Longo e um examinado por um de nós juntamente com o Prof. A. Ombredane -o que tornou inexequível a prática de alguns dos exames complementares de rotina em clínica hospitalar; aliás, no que diz respeito propriamente ao estudo das afasias, estas provas poderiam ser dispensadas sem grande dano. Em virtude de não pretendermos fazer relato detalhado de cada um dos casos, faremos uma visão de conjunto sôbre as afasias dentro de um critério clínico, apresentando oportunamente as referências sôbre os casos.Inúmeras têm sido as explicações propostas para os fenômenos verificados nos afásicos, e a quase totalidade delas peca pelo fato de não dispensarem a merecida atenção aos aspectos psicológicos da palavra normal e patológica.Sem uma base sólida fundada em uma investigação psicopatológica, êstes fenômenos tornaram-se extremamente confusos e incapazes de se ajustar a uma interpretação que os abarque em conjunto. Já Baillarger, na metade do século XIX, criticava a explicação do comportamento dos afásicos por uma amnésia ou incoordenação dos movimentos da palavra. O doente algumas vezes pode escrever aquilo que não sabe falar, e, nestes casos, nota-se não a impossibilidade de articular um ou outro fonema mas sim a incapacidade de articular tal fonema ou palavra em um momento oportuno. É facílimo de verificar, examinando afásicos motores, que um determinado fonema que não pode ser pronunciado em uma palavra o poderá
O assunto de que vamos tratar refere-se ao parentesco entre diversas moléstias familiares degenerativas do sistema nervoso, principalmente daquelas cujos sintomas se restrigem aos sistemas medular, neural e muscular. Pensamos trazer contribuição util, com a apresentação de três irmãos em cuja família a amiotrofia de Charcot-Marie-Tooth fez aparecimento várias vezes, umas em forma pura e outras mesclada com sintomatologia piramidal.As moléstias familiares degenerativas do sistema nervoso constituem capítulo bastante extenso e, principalmente, bastante controvertido da patologia médica. Descritas em sua maioria nas últimas décadas do século passado, sob formas puras, receberam o nome dos grandes mestres que delas se ocuparam. Mais tarde foram descritos casos em que a sintomatologia clássica estava acrescida de outros elementos, ou casos em que faltavam alguns dos sinais descritos, e que foram, então, classificados como pertencentes a entidades nosológicas à parte. As formas mixtas se tornaram cada vez mais numerosas e com isso ficou demonstrada a existência de formas de passagem entre umas e outras dessas moléstias, tudo conduzindo a pensar na possibilidade de parentesco entre elas.E' extensa a literatura relativa às moléstias familiares do sistema nervoso, focalizando-as sob os mais variados pontos de vista. No que diz respeito à classificação, é mais aceita a de Crouzon (1), que tomou por base a séde predominante das lesões anátomopatológicas no sistema nervoso e, com isso, as reuniu em 6 grupos distintos:
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