RESUMO Os enunciados do discurso sobre a inclusão se formaram em consonância com a configuração atual da biopolítica no neoliberalismo, por vezes desconsiderando as dissonâncias geradas pela experiência, pela diferença que singulariza as relações com a deficiência e pelo acontecimento que a significa na escola. Ao recobrar esses aspectos, o presente artigo procura problematizar a dispersão contida nos discursos sobre a inclusão e indicar outro olhar sobre a relação com a deficiência nos contextos educacionais. Para tanto, recorre-se ao pensamento tardio de Michel Foucault para analisar algumas pistas sobre a emergência e os limites dos discursos sobre a inclusão escolar. Para buscar outro olhar sobre o assunto, enfatiza-se a positividade da deficiência na escola e a necessidade de se passar do discurso sobre a inclusão a práticas em que a relação com os deficientes lance aos atores dessa instituição desafios de uma diferenciação ética e de um posicionamento político comuns.
As relações entre pós-modernidade e educação tem sido objeto de inúmeras pesquisas, bem como de certa polêmica no âmbito da Filosofia da Educação, a começar pela própria conceituação da pós-modernidade até chegar às posições filosóficas engendradas por ela. Em quase todas essas pesquisas e polêmicas, A condição pós-moderna, de Jean François Lyotard, se configura como uma referência importante, porém raramente as obras subseqüentes a essa são mencionadas, deixando uma parte de seu legado filosófico de fora de tais discussões e, particularmente, de suas eventuais contribuições para a educação. Tendo em vista esse limiar dos estudos sobre o assunto, o presente artigo procura desenvolver uma interpretação acerca do pensamento lyotardiano, privilegiando a análise das obras subseqüentes ao seu livro mais polêmico, com o objetivo de situar o seu projeto filosófico para além de um marco da pós-modernidade e de discutir as suas contribuições à Filosofia da Educação na atualidade. Mediante tal interpretação, recupera-se um projeto filosófico que lança alguns 'desafios' à Filosofia da Educação referentes ao deslocamento de sua problemática epistemológica para a estética, nutrida por um pensamento capaz de elucidar a face complexa e obscura da educação, a sua sombra inumana, e o diferendo constitutivo do ensino, inapreensíveis pela linguagem e pela comunicação. Assim, esperamos que tal projeto possa ser compreendido não por aquilo que traz de polêmico à Filosofia da Educação, mas pelo que a desafia no tempo presente, como uma reescrita da modernidade.
ResumoEste ensaio discute a crise da jovem democracia brasileira a partir de uma releitura da noção deweyana de democracia, desenvolvida à sombra da ontologia do presente de Michel Foucault. Desta perspectiva, indica-se uma outra entrada de leitura para Democracia e educação, mais concernente ao tempo presente, e propõe-se a possibilidade de sua atualidade, cem anos depois de sua publicação, para pensar a crise democrática brasileira. A proposta é a de ler essa obra a partir de um problema da democracia posto por Michel Foucault em seus últimos cursos e da inflexão ética que evoca acerca da política na atualidade. Especificamente, objetiva-se analisar os efeitos daquele problema sobre a educação e discutir a hipótese de que esta poderia se constituir em uma forma de resistência a certo esvaziamento da democracia representativa no presente. Ao retomar a noção deweyana de democracia como uma forma ética de vida, defende-se que essa hipótese seria possível no âmbito educativo, sobretudo, se fosse recobrada do ponto de vista não de uma sociedade cada vez mais inclusiva, como requerido pelo seu original formulador, mas de uma sociedade em que a diferença seja o seu princípio e o seu fim, como sugere a perspectiva política foucaultiana.Palavras-chave: Democracia. Dewey. Educação. Ética. Foucault. AbstractThis essay discusses the crisis of the young Brazilian democracy from a rereading of the Deweyan notion of democracy, developed in the shadow of the ontology of present by Michel Foucault. From this perspective, we indicate another reading entry for Democracy and education more regarding the present time and propose the possibility of its current, a hundred years after its publication, to think of the Brazilian democratic crisis. Our proposal is that we read this work in the light of a problem of democracy put by Michel Foucault in his last courses and the ethical inflection that evokes about politics today. Specifically, we aim to analyses the effects of that problem on education and to discuss the hypothesis that this latter could constitute a form of resistance to the right to empty the representative democracy in the present. By returning to the Deweyan notion of democracy as an ethical form of life, we advocate that this hypothesis would be possible in the educational sphere, above all, If we over this notion of the point of view not of an increasingly inclusive society, as required by its original formulator, but of a society in which the difference is its principle and its end, as suggests the Foucaultian political perspective.
O artigo objetiva apresentar a experiência de vida surda como acontecimento ético e estético. O ethos surdo se constitui pelas diferenças e é efeito das marcas de uma expressividade que se estende aos corpos. Os estudos numa perspectiva cultural da surdez, da qual somos parceiros, agenciam-na por seus marcadores linguísticos e culturais. Nossa mirada abrange as particularidades linguísticas, de uma língua de modalidade gesto-visual, mas amplia a perspectiva ao dar ênfase aos restos-acontecimentos que são efeitos das sensações surdas, das performances corporais, dos gestos e da expressividade do pensamento surdo que se produz nesse acontecimento único que funda a experiência do ser surdo. Para tais argumentações pautamo-nos da perspectiva ontológica, de uma ontologia da deficiência como espaço da falta, de uma plasticidade destrutiva, que constitui os corpos surdos e os fazem singulares pelo acidente. São de experiências únicas de corpos produzidos nesta expressividade enigmática e única que traçamos nossas problematizações de modo a afirmar a surdez em sua potencialidade afirmativa de um acontecimento singular que se materializa em corpos vivos, em línguas/corpos.
A normalização é a linguagem do mundo atual, a identidade se constitui no princípio da lógica dos sujeitos que nele atuam, e a ordem é o signo tão propagado de seu progresso. Nesse contexto, os enunciados do discurso da inclusão se formaram e se apresentaram em consonância com essa linguagem, apoiando-se em sua lógica e em seu signo, ignorando todas as dissonâncias geradas pela experiência, pela diferença que a singulariza e pelo acontecimento que a significa. O propósito deste artigo é, ao recobrar a dispersão contida naquele discurso, problematizá-lo e indicar outro olhar sobre a relação com os deficientes, nos contextos familiar e escolar. Para tanto, recorreremos ao pensamento de Michel Foucault, para analisar a emergência dos discursos sobre a inclusão e para discutir as possibilidades de que práticas ditas inclusivas confiram maior visibilidade à diferença e ao acontecimento, decorrentes da relação com as pessoas deficientes, na escola.
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