Paisagens são construídas, no duplo sentido de serem concebidas e de serem produtos da ação prática de sujeitos sobre o mundo. O artigo trata dos híbridos que emergem nas paisagens construídas por habitantes da zona rural de São Luiz do Paraitinga e por uma equipe de pesquisadores, da qual fiz parte, que estudava a região. A emergência de tais híbridos, num contexto considerado de crise por diversos agentes, em paisagens onde se presume uma divisão em espaços de produção e espaços de preservação, indica uma crise mais ampla da Modernidade, no sentido indicado por Latour, de que "jamais fomos modernos".
O artigo apresenta cinco relatos de experiências de pesquisas colaborativas em contextos de águas turvas e ruínas do Antropoceno. Os contextos são de barragens rompidas e outras em construção, manguezais sofrendo pelas políticas assimétricas de gestão e outros que sofrem pelos empreendimentos de petróleo. Jardins e terra também são contextos que surgem em meio a esses relatos como alternativas e resistências. Em meio às águas de rios, de mares e de manguezais emergem diferentes propostas de experiências de colaboração entre pesquisadores e comunidades, sejam estas de humanos ou não-humanos. Em comum os relatos trazem a importância da reflexividade ao pesquisador, da interdisciplinaridade, da necessidade de métodos inovadores e das práticas de troca dos pesquisadores com as comunidades estudadas e com os públicos que recebem as pesquisas.
A foz do Rio Parnaíba, situada no nordeste brasileiro entre os estado do Piauí e do Maranhão, origina o único Delta das Américas em mar aberto. Esta região apresenta uma rica sociobiodiversidade e exuberantes florestas de manguezais sujeitas a forças de simplificação e contaminação características do antropoceno. O presente artigo narra transformações ocorridas no Delta trazendo a paisagem como protagonista da narrativa a partir das malhas de relações entre caranguejos, manguezais e catadores de caranguejo (caranguejeiros). Por meio de uma abordagem etnográfica que considera as relações entre humanos e outras formas de vida, o artigo evidencia a constituição de paisagens multiespécie frente a processos históricos, e também narrativos, que insistem em eclipsar as diversidades biológicas e culturais. Como contraponto, o artigo enfatiza a dinâmica viva e múltipla da constituição das paisagens do Delta.Palavras chave: Manguezais. Caranguejo-uçá. Ucides cordatus. Delta do Parnaíba. Etnografia multiespécie. Antropologia da paisagem
O artigo trata de como a constituição pública, no Brasil, de categorias legais – e socialmente reconhecidas – beneficiárias de direitos especiais, tais como populações tradicionais e comunidades quilombolas, produziu o acesso de múltiplas noções identitárias entre moradores de uma área florestal da Mata Atlântica do Estado de São Paulo. Esta reelaboração identitária consiste numa acomodação de suas lutas por reconhecimento às categorias legais. Como conclusão, diagnostica-se que o acesso a categorias especiais de direitos que buscam o reconhecimento das particularidades (direito à diferença) acaba por constituir uma maneira paradoxal de busca por reconhecimento de padrões mínimos de cidadania (direito à igualdade) historicamente negados a tais grupos.
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