Neste ensaio fotoetnográfico, trago imagens e narrativas do petroceno, entendido como a infraestrutura do petróleo nas paisagens de manguezal do Recôncavo Baiano. Tomando como referência o debate sobre o antropoceno, pretendo contar histórias sobre os efeitos da cadeia petroleira nos territórios quilombolas e pesqueiros da região, mostrando formas de precarização, habitabilidade e modos de engajamento dos quilombolas e pescadores artesanais. A intenção é contribuir para o debate público sobre os efeitos da contaminação da cadeia de exploração de petróleo nas áreas de manguezal, fomentando os direitos de reparação dos pescadores artesanais e a recuperação dos seus ambientes de vida, bem como a inclusão de suas perspectivas nas políticas de conservação e recuperação deste ecossistema.
O artigo apresenta cinco relatos de experiências de pesquisas colaborativas em contextos de águas turvas e ruínas do Antropoceno. Os contextos são de barragens rompidas e outras em construção, manguezais sofrendo pelas políticas assimétricas de gestão e outros que sofrem pelos empreendimentos de petróleo. Jardins e terra também são contextos que surgem em meio a esses relatos como alternativas e resistências. Em meio às águas de rios, de mares e de manguezais emergem diferentes propostas de experiências de colaboração entre pesquisadores e comunidades, sejam estas de humanos ou não-humanos. Em comum os relatos trazem a importância da reflexividade ao pesquisador, da interdisciplinaridade, da necessidade de métodos inovadores e das práticas de troca dos pesquisadores com as comunidades estudadas e com os públicos que recebem as pesquisas.
O artigo situa o campus dos Malês no “Atlântico negro”, problematizando dimensões do processo de interiorização e internacionalização da Unilab no Recôncavo Baiano por meio de fragmentos da experiência quilombola e africana no território, e considerando a presença do petróleo nas práticas universitárias. A proposta é discutir como as ideias de alteridade e racismo podem intersectar questões econômicas, políticas e ambientais atreladas à cadeia de exploração do “ouro negro”. Após definir problemas e contextualizar o campus dos Malês no Recôncavo, o artigo examina conexões quilombolas com a universidade para então discutir as conflitualidades vividas pelos estudantes africanos na cidade de São Francisco do Conde. Metodologicamente, o trabalho está amparado na análise e descrição de experiências educativas e nas pesquisas desenvolvidas pelos próprios estudantes. O texto levanta processos que confluem e se cruzam no campus dos Malês, ele mesmo um microcosmo no qual se entrelaçam diversos fios e pontos da diáspora afro-atlântica, projetada a partir de diferentes lugares e histórias de engajamento, luta e encontro.
Ainda que a produção antropológica resulte de relações de aprendizado com pessoas, práticas e lugares, essas experiências tendem a ser negligenciadas quando se ensina antropologia nas universidades. Considerando a educação como um desígnio fundamental da antropologia, este artigo pretende mostrar a importância de deslocar os processos de aprendizado para os lugares onde a vida das pessoas se realiza. Tomando como referência ações pedagógicas realizadas junto a duas comunidades quilombolas da Grande Salvador, propõem-se aqui pedagogias colaborativas em antropologia. A intenção é, por um lado, mostrar que o ensino de antropologia pode estar a serviço das demandas comunitárias, garantindo a representatividade epistêmica de pessoas, práticas e lugares que engajamos no fazer antropológico; e, por outro lado, assumir o ensino como compartilhamento de experiências no mundo, tensionando os cânones pedagógicos centrados na autoridade docente, livresca e da sala de aula. Nesse sentido, aulas abertas nas comunidades, caminhadas nos territórios e participação nas vivências comunitárias podem servir de instrumentos pedagógicos imprescindíveis ao aprendizado antropológico. Ao corresponder as práticas comunitárias aos modos de ensinar antropologia, veremos que as pedagogias colaborativas contribuem para o mais importante desígnio dessa ciência: a compreensão das pessoas e do mundo que vivem(os).
Resumo Baseado em duas situações de vazamento ocorridas em 2018, o artigo apresenta a violência lenta do petróleo na Baía de Todos os Santos. Com ele, pretendo contribuir para as abordagens antropológicas sobre percepções e impactos ambientais na longa duração a partir de três dimensões de análise. Na primeira, mostro as formas de produção da violência lenta do petróleo, vinculadas aos mecanismos de negação de sua realidade por parte da Petrobras e do poder público. Na segunda, descrevo de que modo as comunidades pesqueiras e quilombolas da região a ela se opõem, articulando seus direitos na esfera judicial e no debate público através da intersecção das agendas ambiental, racial, de gênero e climática. E, por fim, revelo as formas de inscrição da violência lenta do petróleo nos ambientes costeiros da Baía de Todos os Santos, estimulando um olhar sobre a produção de paisagens e habitabilidades na longa duração.
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