A fortuna das interpretações sobre junho de 2013, salvo relevantes exceções, parece-nos ter sido acometida por infrutífera polarização. De um lado, a ênfase nos aspectos positivos das mobilizações permanece aquém de construir uma plausível relação entre os eventos de 2013 e seus desdobramentos na arena político-institucional do país, tratando junho como evento alheio à reação conservadora que se lhe seguiu. De outro lado, a ênfase no polo negativo faz crer que ora se tratariam de manifestações com alto grau de superficialidade, como meros eventos performáticos e miméticos de uma forma global de mobilização; ora se trataria do gatilho de uma reação conservadora cuja retórica genérica sobre corrupção e patriotismo seria sintoma de uma pulsão fascista, anti-institucional, anti-representação e, no limite, anti-democrática. Buscaremos identificar fundamentos e variações de algumas destas interpretações, em chave negativa, sobre o caráter conservador de junho de 2013 – menos para restituir imediatamente alguma verdade intrínseca que tais interpretações revelariam, e mais para entender como a polifonia e os antagonismos no interior deste restrito campo interpretativo apontariam, mesmo dados os limites de sua unilateralidade, para um momento crucial da efetiva contradição do fenômeno histórico em questão.
Resumo: A teoria do populismo erige-se como paradigma hegemônico de interpretação do Estado Novo e da República de 1946 tendo como obras-síntese os clássicos estudos de Octávio Ianni e Francisco Weffort, formulados após o golpe de 1964. Seguindo a hipótese de que sua gênese deve ser buscada em disputas político-ideológicas no interior da esquerda que marcaram o período de 1961-1964, o presente artigo argumenta que a obra de Fernando Henrique Cardoso nesta conjuntura constitui um relevante, ainda que pouco estudado, ponto de ancoragem para a devida compreensão da história da teoria do populismo. Bem compreendidos os fundamentos marxistas desta obra, especificamente o modo como algumas noções desenvolvidas por Karl Marx são apropriadas pelo autor de "Empresário industrial e desenvolvimento econômico", abre-se a possibilidade de inscrevê-lo na linhagem dos teóricos do populismo a partir de suas concepções críticas sobre a "democracia como entorpecimento", a "passividade das massas", a "inconsciência de classe" e o "colapso necessário" do "sistema de conciliações" do governo de João Goulart. Ao retomar a inscrição política conjuntural da gênese de tal linhagem, trata-se de empreender um movimento analítico de suspeição com relação à propalada neutralidade axiológica da teoria do populismo -suspeição cujas implicações extrapolam o restrito âmbito dos debates sobre a "história dos conceitos", alcançando também um momento histórico em Abstract:The populism theory emerges as a hegemonic interpretative paradigm of both "Estado Novo" and the "Republic of 1946", whose major works are the classic studies developed by Octávio Ianni e Francisco Weffort after 1964's coup d'état. Building upon the hypothesis that its genesis should be searched in the political-ideological disputes that took place within the Left in the 1961-1964 period, this article argues that Fernando Henrique Cardoso's work, although not frequently studied in this particular sense, constitutes a departure point for a proper understanding of populism theory's history. Through the understanding of his work's Marxist foundations, especially with regards to "Empresário industrial e desenvolvimento econômico " (1964), it is plausible to inscribe Cardoso in a lineage of populism theoreticians, as becomes evident in his use of critical notions such as "democracy as numbness", "masses' passivity", "class unconsciousness" and the "necessary collapse" of João Goulart's "conciliatory system". The article affirms a conjunctural political inscription of those lineage's genesis and undertakes an analytical movement of suspicion with regards to the axiological neutrality of populism theory. This suspicion reaches not only the conceptual history debates, but also a precise historical moment in which, after decades of critique on populism theory's limits, there appears to be a revival of its controversial political-theoretical foundations in many influential analyses about Brazilian recent history (2003)(2004)(2005)(2006)(2007)(2008)(2009)(2010)(2011)(2012)(2013)(2014)(2015...
Apresentação do dossiê "Direitas no Brasil contemporâneo", organizado por Jorge Chaloub, Pedro Lima e Fernando Perlatto.
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