Com base no esquema óptico, proposto por Lacan para identificar a formação do eu na constituição do sujeito, esta pesquisa teórico-clínica levanta a seguinte hipótese: a rotação do espelho plano desvela a fragilidade do eu. O espelho plano introduz, na formação do eu, a alteridade que parte da concepção do Outro em Lacan. Como Freud já havia conceituado, o eu é uma superfície advinda do investimento libidinal a partir da relação do infans com o Outro, substituindo-se à experiência original do corpo despedaçado. Todavia, tal despedaçamento não desaparece no engodo produzido nessa substituição, e quando se desvela, pode lançar o sujeito na angústia. Nossa vinheta clínica visa provocar a discussão que o percurso teórico advindo dessa questão suscita: quando a angústia — como sensação do desejo do Outro —, emerge para, o sujeito espatifando a imagem; ou melho, como diz nosso jovem sujeito, “espaguetificando” o eu.
Visou-se identificar, a partir da teoria psicanalítica, questões advindas da clínica institucional em um hospital universitário no contexto da covid-19. Os pontos abordados no presente trabalho levaram-nos a elaborar teoricamente um sintoma institucional: a objetalização. Tal conceito já foi utilizado por diversos autores e diz respeito à destituição do sujeito que, nos mais diferentes contextos, pode vir a ser tomado como objeto não apenas das práticas, mas também nos discursos. Levantamos a hipótese de que os efeitos da pandemia vivida em 2020, que assolou o hospital em que atuamos, escancarou a objetalização não apenas dos pacientes e de suas famílias, mas também das equipes, que, em sua maioria, procuraram esmerar-se sobremaneira para fazer frente à conjuntura. Desse modo, sustentamos que a objetalização, que vimos a olhos nus no contexto da pandemia, já estava latente na prática hospitalar, mesmo em tempos menos sombrios.
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