A incidência e mortalidade por COVID-19 em países com fortes desigualdades sociais se diferenciam em termos populacionais. Em países com histórico e tradição colonial como o Brasil, os marcadores sociais das diferenças têm profunda ancoragem na demarcação racial, sobre a qual agem as dinâmicas e os processos político-sociais fundados no racismo estrutural. Contrapõe-se a narrativas que propõem uma leitura sobre ser esta uma pandemia democrática, cujo argumento se alinha à retórica da democracia racial que corresponde a uma potente estratégia de manutenção do lugar de populações racializadas, como indígenas e negros, uma produção da colonialidade moderna. Este ensaio debruça sobre o comportamento da pandemia em relação à população negra no Brasil, em diálogo com aportes decoloniais e de leituras críticas sobre o racismo. Discutem-se respostas governamentais e indicadores da doença, segundo o quesito raça/cor, demonstrando a manutenção de tramas e enredos históricos que seguem vulnerabilizando e inviabilizando vidas negras. Aponta-se também para a importância de movimentos de resistência locais, operados a partir do lugar que esses sujeitos ocupam, os espaços urbanos precarizados por ação/omissão do Estado - as favelas.
RESUMO O texto é um registro da mesa-redonda organizada para o Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, que ocorreu na Fundação Oswaldo Cruz (RJ), em 2018, trazendo experiências e reflexões de três mulheres negras, importantes lideranças dos movimentos sociais contra o racismo e a violência de Estado. O tema girou em torno do cuidado em saúde envolvendo os familiares de vítimas de violências de Estado e os desafios para alcançar a integralidade e a equidade no acesso aos serviços públicos de saúde em face do racismo cotidiano vivenciado pela população negra e favelada, alvo dessa violência. Procurou-se sensibilizar, ao trazer narrativas sobre episódios de racismo no interior do sistema de saúde, para a importância da inclusão dessa problemática na formação dos profissionais de saúde.
How does the actualization of government technologies in territories considered to be on the margin of the State work? Which theoretical and methodological clues can we follow from the marks left by State agents on the bodies of those regarded as peripheral? What are the political connections between territorial boundaries and the delimitations of the physical bodies that inhabit them? These questions inform the present article in which we analyze three homicides by pursuing two complementary lines of investigation: one guided by the reflection on the territorialization of certain State actions, in the sense proposed by Barros (2016); the other anchored in the discussion on the mechanisms central to the governmental management of the deaths of favela residents, as outlined by Farias (2014).
A pandemia causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) no ano de 2020 impôs profundas modificações nos diferentes arranjos de socialização. No Brasil, suas consequências foram sentidas sobretudo pela população negra e periférica, que trabalha nas ocupações mais precarizadas, muitas vezes na informalidade e que também compõe grande parte dos trabalhadores nomeados como essenciais, e, portanto, mais expostos à contaminação pelo vírus. Como exemplo deste quadro, analisamos os impactos da pandemia sobre as trabalhadoras domésticas, categoria formada majoritariamente por mulheres negras. Consideramos a colonialidade e o racismo estrutural da sociedade brasileira como dimensões fundamentais para a análise da realidade, elencamos casos recentes de violação de direitos e as mobilizações postas em prática pela categoria.
Palavras-chave: trabalho doméstico; COVID-19; racismo estrutural; colonialidade; movimento sindical.
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