Diversas propostas governamentais no período da ditadura militar no Brasil (1964-1985) implementaram políticas que visavam exercer o controle da distribuição, do acesso e da posse efetiva da terra na Amazônia. As estratégias de uma nova “política de colonização” constituíram um dispositivo de poder que, pelos mais diversos discursos e práticas, apresentava o poder econômico do empresariado como aquele que poderia desenvolver a Amazônia e transformá-la em um mundo produtivo, humano e civilizado, não mais “selvagem”. Muitos projetos de colonização se estabeleceram na Amazônia, particularmente nos estados de Rondônia, Mato Grosso e Pará. Iniciativa empresarial e do Estado, sob várias modalidades, com a “supervisão” do Incra. A estratégia garantiria incorporar grandes extensões de terra, incluindo terras indígenas, a um promissor mercado imobiliário, e sabotar as propostas de reforma agrária – uma dinâmica repleta de ações ilegais, sem nenhuma preservação ambiental, que aparecia associada recorrentemente ao discurso do progresso e da “terra de trabalho” como “terra prometida”. O eixo norteador das reflexões aqui apresentadas é o estudo micro-histórico de uma área de colonização denominada Alta Floresta, do empresário Ariosto da Riva (Indeco), no extremo norte de Mato Grosso. Esta nova edição de A lenda do ouro verde: política de colonização no Brasil contemporâneo, sob o impacto dos desmatamentos atuais na Amazônia, numa intensidade que marca os últimos três anos com os piores índices de destruição da floresta, procura contribuir com análises que estudam o recente passado histórico do Brasil como fenômenos contemporâneos. É preciso interrogar o passado, não esquecendo que o tempo que o conhece é o “nosso tempo”, com suas calamidades, catástrofes e expectativas libertadoras.
Resumo: Este artigo é resultado de pesquisas das múltiplas formas de trabalho na Amazônia sob a égide das políticas governamentais do regime civil-militar, instalado no Brasil em 1964. O texto contempla duas estratégias de análise: a primeira estuda os conflitos sociais na Amazônia relacionados às políticas e dispositivos governamentais que têm como interesse principal controlar a ocupação da terra pelos trabalhadores; a segunda privilegia registros diversos que testemunham a violência contra trabalhadores e conflitos no Araguaia, na área abrangida pela Prelazia de São Félix do Araguaia.Palavras-chave: Amazônia; conflitos sociais; trabalhadores; ditadura civil-militar.Abstract: This article presents the research results on multiple forms of labor in the Amazon under the aegis of government policies in civil-military regime launched in Brazil in 1964. The article embraces two strategies of analysis: 1-the social conflicts in the Amazon related to the policies and government institutions whose main interest was to control the land occupation occupied by the workers; 2-the importance of several records that witness violence against workers and the occurrences of conflicts in Araguaia in the area covered by the Prelature of São Félix do Araguaia.
O presente artigo visa tratar da recorrência de relações de trabalho degradantes, conhecidas no Brasil como Trabalho Análogo ao de Escravo ou Trabalho Escravo Contemporâneo, ao longo do século XX, com ênfase em sua presença na fronteira amazônica brasileira. Discutindo a permanência dessas relações de trabalho após o fim do escravismo, predominantemente entre os trabalhadores rurais, analisamos suas reconfigurações até o final do século quando os projetos de Integração da Amazônia foram desenvolvidos pelos governos militares, sob o pretexto de levar homens sem terra para terra sem homens, produzindo degradação ambiental à custa de mão de obra de migrantes, explorados e sem garantias de direitos.
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