O que move um homem 2 em direção à escrita? Por que subtrair de sua existência, e dos seus, tantas horas em função de um relato -ainda que da própria vida? Não indago aqui o escritor profi ssional, que terá tantas respostas quanto o tempo que reservou para ensaiá-las 3 , mas o homem comum, o sujeito que preenche folhas e folhas de papel e as guarda cuidadosamente trancadas na escrivaninha. Buscarei entender esse impulso de criação, portanto, bem longe das entrevistas ou das declarações de homens públicos. Minha intenção é perscrutar o texto da gaveta, descobrir nele, em meio a suas tramas, as razões do escritor que fi cou do lado de fora. O objeto desta investigação surge, então, de guardados familiares: um pequeno caderno de anotações onde estão inscritas as memórias de José Miguel (1897-1981, imigrante libanês que aporta no Brasil com mulher e fi lhos em 1927. Como contraponto a essa leitura, utilizarei o romance Nur na escuridão, de seu fi lho mais velho, Salim Miguel (1924), que retoma a saga da família em seu transcurso e sua instalação no país.José escreveu seu livro em silêncio, ao longo de muitos anos, mantendo-o fora do alcance dos fi lhos -dizia que só poderiam tê-lo depois de sua morte. Foi quando eles se viram com um texto em mãos que já não podiam ler -o manuscrito, datado de 1968, sem falhas ou rasuras, estava em árabe e eles, naquela altura, haviam perdido a língua materna. Foram precisos mais vinte anos após a morte de seu autor para que o texto pudesse, fi nalmente, ser lido em português, em uma tradução encomendada pela família e realizada por Ália Haddad. Será sobre essa versão, datada de 1997 e intitulada Minha vida, que me debruçarei aqui. Já o romance de Salim 1 Doutora em teoria literária, professora titular de literatura brasileira da Universidade de Brasília (Brasília, Brasil) e pesquisadora do CNPq. E-mail: rdal@unb.br. 2 Utilizo "homem", aqui, sem nenhuma intenção de universalizar a experiência masculina de escrita, faço-o simplesmente porque o objeto de minha análise é de autoria masculina. Certamente outras questões teriam de ser aventadas se a autoria fosse feminina. 3 Uma personagem abusada de Sérgio Sant'Anna dizia escrever para "retratar os dramas humanos primordiais, como o amor, o confl ito e a morte", mas em seguida ele confessa que o seu objetivo, mesmo, era conquistar as mulheres (Sant'Anna, 1980, p. 35 Miguel é obra de um autor maduro, publicada por uma editora importante em 1999, a Topbooks, reeditada por uma editora ainda maior, a Record, em 2008, e ganhadora do prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte, do Zaffari & Bourbon (Passo Fundo) e, de algum modo, do prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras 4 . Aproximar um autor consagrado e o escritor de um único livro jamais publicado pode parecer um exercício esnobe de crítica: exibir os recursos da experiência contra a ingenuidade do diletantismo. Não é essa, absolutamente, a intenção deste texto, até porque o livro de José apresenta, em diversos momentos, estratégias inusitadas e soluções narrativ...
Este trabalho busca analisar, nas obras de Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo, as possibilidades estéticas e políticas da autorrepresentação da experiência feminina negra nas metrópoles brasileiras. A cidade, nesses livros, não é apenas paisagem ou retrato, mas elemento de subjetivação e espaço de empoderamento, que se efetivam a partir da própria escrita. Fugindo da perspectiva dominante - branca, masculina, elitizada - de nosso cânone literário, Jesus e Evaristo não apenas resgatam "histórias não contadas", como também produzem novos modos de pensar e dizer a relação entre cidade, gênero, raça e classe.
resumo A partir do mapeamento e análise da crítica literária acadêmica produzida no Brasil nos últimos 15 anos, busca-se observar como a literatura brasileira (e, mais especificamente, a literatura brasileira contemporânea) é abordada nessas revistas. Com a leitura e fichamento de mais de 3 mil artigos, procurou-se identificar quais as correntes mais presentes, os autores de referência, as obras mais citadas. A intenção é alcançar um conhecimento mais profundo tanto sobre a crítica no meio universitário quanto sobre os mecanismos de legitimação do campo literário brasileiro.
Resumo O chamado boom do conto brasileiro dos anos 1970 marcou um momento de efervescência do gênero até hoje não igualado. O artigo discute as circunstâncias em que ele ocorreu, tanto econômicas quanto políticas. Forma breve, de produção e de consumo muito mais rápidos que o romance, o conto adaptava-se bem às urgências de um tempo em que escritores queriam usar sua arma, a palavra, para se somar à luta contra a ditadura e expor as desigualdades que nos formam.
Resumo: A partir de uma extensa pesquisa que mapeou todos os romances brasileiros publicados pelas três editoras mais importantes do país
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