A obra, que reúne o material teórico recente produzido pelos pós-graduandos da área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, com pesquisas em curso no ano de 2015, celebra os vinte anos de atividades de comparativismo dedicado ao universo de obras escritas em Português, no âmbito da FFLCH/Universidade de São Paulo. A edição é um panorama do que de mais significativo tem sido pesquisado e elaborado teoricamente em torno do trabalho literário existente no Brasil, em Angola, Cabo Verde, Moçambique, Timor-Leste e Portugal. Os textos não apenas revelam o registro de reflexões e investigações particulares a um campo específico, como também contribuem para pesquisa e teorização sobre literatura em diferentes áreas do conhecimento: história, política, filosofia, educação, antropologia e cultura, e os entrelaçamentos desses saberes com linguagens artísticas, principalmente o cinema e as artes visuais, confirmando "um teor eminentemente transdisciplinar de crítica e criação teórica".
ano de 2015 registra uma data com dupla importância. A data se refere às exatas quatro décadas de independência de Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. A dupla importância se refere ao fato de, por um lado, essa data marcar o golpe mais substancial às configurações imperialistas de Portugal no mundo, e, por outro, encerrar um processo de emancipação política que varria o continente africano desde a independência do Gana em 1957. Com efeito, com exceção dos casos da Namíbia, do Saara Ocidental e do Sudão do Sul, cujas independências precisaram ou precisam ocorrer a partir de dominações internas do continente, depois de 1975, ao menos na forma do estatuto político, nenhuma potência europeia dominava mais algum território em África.A data exige reflexão por parte dos cientistas humanos. Como avaliar essas quatro décadas de consolidação da "África dos Estados", na acertada expressão de Elikia M'Bokolo? (2011: África Negra: História e Civilizações, Tomo II, p. 649) Sabemos que o surgimento de uma consciência emancipatória em África foi acompanhado de uma tomada de consciência em todo mundo colonizado, que conseguiu jogar luzes sobre o quanto exploratório e desumano foi o colonialismo ligado ao imperialismo (nas suas diferentes formas de ocupação) a partir do sé-culo XIX. Esse processo teve em seu bojo a avidez de despir as ciências humanas dos latentes traços imperialistas que lhe caracterizaram desde suas formações no século XIX e XX, e, neste sentido, todas as áreas do conhecimento humano foram afetadas: a antropologia, a história, a linguística, os estudos literários, a geografia, todas essas ciências, hoje, podem receber o epíteto "colonial", quando nos referimos à sua prática em certo período da história. Esse processo de nudez do caráter imperialista das ciências humanas pode hoje ser chamado, a propósito, de "descolonização dos saberes". Ora, se um processo científico de tamanha monta, a descolonização dos saberes, se desenvolve em paralelo a um processo político de igual tamanho, a emancipação política do mundo colonial, com tamanhas e evidentes imbricações, que efeitos haverá sobre as ciências humanas essas quatro décadas de independência política e de descolonização prática dos saberes?Quer dizer, inúmeros institutos, centros de pesquisa, departamentos, programas de pós-graduação, de inúmeras universidades do mundo se empenharam com afinco em descolonizar os saberes, e isso estabeleceu muita relação com os processos políticos em curso nos países de África, da Ásia, da Oceania e até mesmo das Américas. Passados os processos políticos, e buscadas as descoloniza- atingia seu ponto mais conflituoso e insustentável, e, ainda jovem, foge como refugiado político para a Bélgica. Desde a Europa faz contato com a nascente Frente de Libertação de Moçambique, e pega em armas para defender a emancipação política de seu país. Com a independência conquistada, Camilo de Sousa se transforma num agente cultural de Moçambique, integrando o recém-criado Instituto Nacional de Cinema, e tomando parte na criação ...
páginas), a professora Tania Macêdo percorre as ruas de Luanda conciliando dois campos fundamentais do saber: o literário e o histórico. Valendo-se de uma leitura que privilegia as imbricações permanentes entre a realidade simbólica da ficção e a realidade material da História, a autora constrói uma cuidadosa análise a respeito das condições de vida dos angolanos na cidade de Luanda. Para tanto, parte do olhar de seus escritores que descrevem a cidade e seus conflitos, desvendando ao longo das últimas décadas também na literatura as tensões dialéticas próprias de um país que atravessou o longo período do sistema colonial português, a guerra de independência, a guerra civil e o momento presente em que as condições econômicas de um mundo tomado pelo mercado financeiro e suas crises ocupam o cenário político-econômico mundial e portanto, inevitavelmente, Angola. Assim, refletir acerca da inserção de Angola nas políticas econômicas mundiais, ao longo de sua História, vislumbrando um horizonte para além das fronteiras do país, bem como, em oposição, estabelecer um recorte, através da capital do país, Luanda, pelo qual se torna possível perceber como internamente as políticas externas vêm interferindo no crescimento e na organização deste espaço, são aspectos fundamentais que permeiam este trabalho da autora. Sobretudo por meio da perspectiva da crítica literária, opera o resgate da emergência de temas políticos nos conteúdos do campo ficcional. Elabora, dessa forma, uma via de mão dupla em que as tensões dialéticas que se estampam nas narrativas ficcionais abordadas, próprias de um cenário social convulsionado pela ocupação colonial, pela pilhagem, pelo empobrecimento econômico, pela corrupção, balizam o seu trabalho.
Este artigo realiza uma leitura do romance Venenos de Deus, Remédios do Diabo, de Mia Couto, procurando destacar algumas representações do que se refere a temas como doença e cura no universo cultural de Moçambique. Para tanto, propõe-se a leitura da narrativa ficcional de Mia Couto sob as lentes das imbricações com os campos da história, das ciências sociais e de certos pressupostos da medicina social, a fim de verificar a hipótese de que o autor constrói sua crítica à hegemonia do saber ocidental, desvelando cosmovisões alternativas engendradas nas práticas culturais de povos africanos. ---DOI: http://dx.doi.org/10.22409/abriluff2018n21a523.
O presente número da Revista FronteiraZ traz um dossiê de artigos reunidos sob a temática A palavra na literatura e em outras artes. A literatura, como repositório das experiências humanas vividas e imaginadas, potencializa a palavra dando-lhe corporeidade. Matéria prima dos diálogos, produzidos com propósitos estéticos, aproxima-se da expressividade natural da fala e se abre a diferentes contextos de práticas interacionais. A palavra escrita, lida, vocalizada, ouvida é franqueada às diversas artes. Nas Artes Cênicas, ganha as dimensões do próprio corpo, de seu saber sensível, no trabalho do ator em seu processo de composição poética da voz. Em Artes outras, para além das literárias e performáticas, a palavra compõe visualidades e demarca sua expansão para os mais amplos territórios de manifestação estética. Os artigos que FronteiraZ acolhe neste número flagram a expressividade da palavra em diversas manifestações artísticas, analisando-a à luz de sólidos aportes teóricos que orientam e embasam as reflexões.
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