Neste artigo procuramos investigar a possibilidade de que os registros de representação semiótica dos objetos matemáticos, em particular, aqueles relacionados à Análise de Dados possam ser explicitados nos currículos de Matemática. Com esse propósito buscamos desenvolver um ensaio de uma proposta curricular para o ensino básico que articule os objetos matemáticos às diferentes representações semióticas em diferentes tarefas escolares. Para a realização desta pesquisa tomamos por base os registros de representações semiótica de Duval, a idéia do currículo em rede de Pires e o estudo sobre a diversidade e natureza das tarefas escolares em Ponte.
Ler e escrever estatísticas pode fazer parte das primeiras experiências de alfabetização das crianças. Pensando nisso, vimos no trabalho com o banco de dados Dollar Street, a possibilidade de leituras de dados multivariados com crianças de 7 e 8 anos de idade. Objetivamos encontrar nessa ferramenta, alternativas de ensino de estatística que façam sentido aos estudantes, contribuindo para a leitura e expressão do mundo e sua disposição estatística. Os dados da pesquisa foram produzidos a partir de vídeo-gravação de aulas e análise. Ouvir o que as crianças pensam e participar de suas descobertas com o Dollar Street nos ajudou a entender sua relação com os dados multivariados e ver como elas podem se reconhecer nos dados, identificar seu lugar no mundo e criar disposições estatísticas.
O artigo conta a história de pesquisa de tese de doutorado de uma pesquisadora e professora que utilizou vídeo gravação como recurso de produção de dados de uma pesquisa narrativa com foco no pensamento estatístico na infância. Apresenta os caminhos tomados para a produção de dados e a escrita da tese, bem como os trajetos insubordinados que o trabalho tomou a partir do olhar para os vídeos e a ajuda de colegas de grupo de pesquisa que cuidavam das filmagens e que acabaram se tornando parceiras por lançarem seus olhares críticos através das lentes da câmera. Esses caminhos levaram a reflexões sobre nuances e dilemas enfrentados com o uso da filmagem na sala de aula, a simultaneidade desse lugar único, e a necessidade de foco em uma pauta de pesquisa. O processo de colaboração e reflexão envolto nas filmagens propiciou a percepção não apenas do que acontece diante das câmeras, mas por detrás delas, a percepção do antes e depois da filmagem e até mesmo as coisas que não foram filmadas, mas sentidas e ficaram gravadas na memória. O olhar para a sala de aula em parcerias a partir de vídeo gravações levou as pesquisadoras a assumirem, de maneira plural, uma postura insubordinada e criativa diante das escolhas e das formas de escrita de tese. Levando em consideração questões éticas da narrativa como a pesquisa da vida, defendem que os meios de produção de dados também tenham vida e que as escritas de uma tese contem histórias de vida envolvendo pessoas integrais que se emocionam, que pensam e que se movem, enquanto relacionam presente, passado e futuro.
Partimos do argumento de que o letramento estatístico é necessário para a inserção das pessoas na cultura letrada. Acreditamos que o letramento estatístico se desenvolve ao longo da vida, tendo início nos primeiros anos da escolaridade das crianças. Como professoras e formadoras de professores, a questão que perseguimos é como desenvolver o letramento estatístico de forma que as crianças sejam protagonistas frente aos dados e estabeleçam conexões entre os dados da realidade e suas vidas. Primeiramente, trazemos reflexões sobre letramento estatístico a luz de diversos autores e também o definimos como um lugar de fronteira pacífica, “letramento – estatística” em que convivem linguagens e culturas que se complementam. Em seguida, apresentamos o banco de dados interativo virtual Dollar Street, parte de sua ideologia e possibilidades de navegação. Depois, relatamos uma experiência de sala de aula com proposta de trabalho para um segundo ano do Ensino Fundamental usando esse banco de dados. As crianças evidenciam disposição de participar ativamente em investigação estatística, de natureza aberta, observando dados em contexto segundo os seus interesses, concretizando diferentes formas de classificar, e desenvolvendo o seu senso crítico, incluindo a percepção das limitações das amostras e das consequências sobre o que estas revelam, sobre quem representam. Isso é inferido por meio da análise dos diálogos que se estabelecem entre os participantes da experiência, em relação aos dados, bem como das suas maneiras de interpretar e lidar com os dados multivariados. Esse trabalho mostra que o letramento estatístico não é um ponto de chegada, mas um caminho trilhado de forma conectada com as linguagens escrita, oral e digital.
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