A literatura sobre ações afirmativas converge sobre a importância de políticas reparadoras para grupos sujeitos a desigualdades históricas, em virtude da relação negativa entre os seus antecedentes e as possibilidades de ingresso e permanência no Ensino Superior. No Brasil, uma das principais políticas nessa área é o Programa Universidade para Todos (ProUni), que oferta bolsas em instituições privadas de ensino superior (IPES). O objetivo deste artigo é analisar se, no caso específico dos cursos de Direito, existe a relação entre antecedentes de desvantagem e desempenho acadêmico, bem como se há retornos, além do capital econômico, para as IPES em manter alunos ProUni. Para isso, foi criado um modelo de regressão linear com dados do Enade, usando como variável dependente a nota no exame, e como variáveis independentes a proporção de alunos ProUni no curso, o perfil socioeconômico médio da turma, e o perfil docente. O modelo confirmou as relações intuitivas entre as variáveis de antecedentes e desempenho, e identificou relação positiva entre a presença de bolsistas nos cursos e o resultado no Enade. Assim, a partir do modelo e da bibliografia especializada, observou-se que, nos cursos de direito, as IPES obtêm retornos consideravelmente amplos, tanto de capital econômico, em virtude da estrutura de financiamento da política pública; quanto de capital simbólico, pela relação positiva entre presença de alunos ProUni no curso e a nota no ENADE.
O objetivo deste artigo é discutir a construção da identidade social dos estudantes bolsistas integrais do Programa Universidade para Todos (ProUni) em relação ao seu pertencimento à educação superior e à faculdade privada, tomando por base a ideia de “ruptura” em sua identidade social a partir do contato com uma nova fronteira social. Para tanto, realizamos análise de entrevistas semiestruturadas com bolsistas integrais ProUni no Estado de Pernambuco, mediada pelas teorias do capital cultural e do habitus, de fronteira simbólica e de configuração estabelecidos-outsiders. Esperamos contribuir para um melhor entendimento do impacto causado pela possibilidade de cursar a educação superior na construção da identidade destes estudantes.
Este artigo objetiva discutir as estratégias adotadas pelos egressos do ProUni ao vivenciar conflito geracional com seus pais em decorrência do inédito acesso ao ensino superior. Para tanto, tendo como aporte teórico a sociologia praxiológica de Pierre Bourdieu, analisou-se, em profundidade, 22 entrevistas realizadas com egressos do ProUni com bolsa integral no estado de Pernambuco. Os resultados apontam que (1) os entrevistados percebem sua trajetória relacionada a um histórico de desvantagem social que, por mérito próprio, rompeu com um provável insucesso escolar, sendo o ProUni apenas uma oportunidade externa de ruptura. Aponta--se também que (2), diante da incompatibilidade entre o mundo profissional e o de seus pais, eles adotam a estratégia de não conflito, adequando suas práticas e costumes às regras de cada espaço social, incluindo permitir aos pais a manutenção do papel de dominantes nas relações familiares.
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