ResumoEsta tese se propõe a discutir por que renomados cientistas sociais da área de estudos e pesquisas sobre as relações raciais brasileiras -brancos em sua maioria absoluta, de acordo com a classificação do IBGE -, são contra a implementação de cotas para os estudantes negros nos vestibulares das universidades públicas brasileiras. Para responder a essa questão, o autor busca sustentar a hipótese de que a política de cotas para negros no ensino superior público brasileiro extrapola o seu objetivo imediato, qual seja, a inclusão de estudantes negros no ensino público superior. Para além da sua função manifesta, essa política tem um potencial transformador ao demonstrar que é possível redistribuir políticas públicas de boa qualidade e, adicionalmente, questionar a ideologia racial brasileira. E mais, ela possibilita que se aspire a mudanças na composição das elites dirigentes brasileiras. Todavia, no processo de verificação dessa hipótese apareceram dois novos problemas.O primeiro deles refere-se ao papel dos Movimentos Sociais Negros (MSN) no processo de implementação das ações afirmativas.
Historical Roots of the "Whitening" of Brazil by Sales Augusto dos Santos Translated by Laurence HallewellIt has been estimated that, over a 300-year period from the second half of the sixteenth century until the first half of the nineteenth, some 3.5-3.6 million black slaves were brought to Brazil from Africa (Goulart, 1950: 272; Mattoso, 1981: 53). This enormous number of black Africans transformed the racial makeup of Brazil. We do not know exactly when it happened, but by the end of the eighteenth century these blacks and their descendants already formed the majority of the Brazilian population (Malheiro, 1976: 30). This demographic circumstance persisted into the following century. In 1872, the year of Brazil's first national census, whites constituted 38.1 percent of the population, while blacks, mulattoes, and Indians accounted for the remaining 61.9 percent. In the second census, carried out in 1890, the white population, although it had proportionately increased by 5.9 percent to 44 percent, was still in the minority, as the other racial categories together still accounted for 56 percent of the total (Santos, 1997).The available statistics show that, in the final years of Brazilian slavery, the slave population was concentrated in the southeast, excluding the province of Espírito Santo and the city of Rio de Janeiro. Although the statistics show that between 1884 and 1887 slave numbers fell sharply, by some 41.69 percent, in every province, the concentration of the slave population in this region-the provinces of Minas Gerais, Rio de Janeiro, and São Pauloactually increased during the last decade of slavery (Santos, 1997).After the abolition of the slave trade in 1850 and well before there was any obvious decline in the supply of slaves, their owners and the rulers of Brazil "discovered" that the offer of blacks from Africa was not unlimited. This realization gave rise to the first concern with the labor supply question, based on a probable future shortage of hands for agricultural work.Realizing that slave labor was inevitably doomed, the Brazilian ruling elites began to stress the need to develop free labor as a substitute, although they meanwhile did their utmost to delay the abolition of slavery. Since slave 61 Sales Augusto dos Santos is a sociologist at the University of Brasília, specializing in race relations. Laurence Hallewell, until his retirement, was Latin American librarian at Columbia University.
At the end of 2001 the question of race became part of the Brazilian national agenda under the pressure of black social movements for the establishment of quotas for admission of Afro-Brazilians to public universities. There was already strong resistance to this proposal. One of the principal arguments against this kind of affirmative action was and continues to be that Brazilian racial boundaries are not as rigid as those of the United States-that, given its substantial miscegenation, it is impossible to know who is black. The myth of racial democracy seriously limits realistic discussion of racism and racial identity because it prevents the identification of dysfunctional race relations. The question is not who is black but what sort of society Brazilians want to build.
Após o surgimento do Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978, cresce significativamente o protesto negro contra a discriminação racial no Brasil e, consequentemente, aumenta o debate sobre a questão racial brasileira, inclusive com a institucionalização de alguns órgãos públicos estaduais, municipais e até federais (Dal Rosso, 2009; e Santos, 2007). Por outro lado, há também o ressurgimento e o aumento significativo da quantidade de negros 2 intelectuais oriundos direta ou indiretamente da militância dos movimentos sociais negros, especialmente a partir do início da década de oitenta do século passado. Conforme os cientistas sociais Lúcia Barbosa, Petronilha Silva e Valter Silvério, "entre os pesquisadores negros brasileiros, a problemática racial tem sido objeto de reflexão sistemática desde o surgimento do Movimento Negro Unificado [MNU] na década de 70 [do século XX] em meio ao processo de redemocratização do país" (Barbosa, Silva e Silvério, 2003: 09).Devemos deixar evidente aqui que intelectuais negros sempre existiram no meio acadêmico brasileiro 3 , embora estes fossem -e ainda são -poucos, mas não tão pouco como pensa Carvalho (2005: 17). Este antropólogo afirmou, com base em uma enquete que realizou no ano 2001 na Universidade de Brasília (UnB), que havia apenas 1% de professores negros nessa universidade, enquanto a pesquisa de Santos ( 2007), nesta mesma instituição federal de ensino superior, demonstrou que havia 5,1% de professores pretos e 14,6% de professores pardos, perfazendo um total de 19,7% de professores negros na UnB. Porém, frise-se aqui que a porcentagem de acadêmicos negros no Brasil deve variar de universidade para universidade, bem como de região para região, entre outros fatores. Além disso, devese igualmente salientar que, no geral, a maioria desses poucos intelectuais negros provavelmente passou e passa por diversas dificuldades para chegar aonde eles chegaram, ou seja, para ocupar um cargo e ter o status de professor de uma universidade pública brasileira. Ademais, o isolamento a que praticamente estão relegados em seus departamentos muito provavelmente os impossibilita de debater a questão racial brasileira de forma franca, profunda, sem medo de represálias e com apoio ou solidariedades intra e inter-racial, visto que raramente há pares intelectuais negros em suas unidades acadêmicas (cf. Santos, 2007) e intelectuais não negros que se posicionam, sem tergiversar, contra a discriminação racial.Se intelectuais negros sempre existiram na academia brasileira, negros intelectuais eram raríssimos, como, por exemplo, Lélia Gonzales e Alberto Guerreiro Ramos, que portavam uma ética da convicção 4 antirracismo incorporada dos movimentos sociais negros, 2 Como negros são designadas aqui as pessoas que se autodeclaram pretas e pardas. Ou seja, a categoria "negros" é a junção das categorias "preta" e "parda" que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) utiliza para coletar dados sobre a "cor" ou "raça" dos entrevistados em seus Censos Demográficos e nas Pesquisas Nacionais po...
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
customersupport@researchsolutions.com
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.