Esta tese tem por objeto de estudo a mulher na Romaria do Bom Jesus da Lapa, enfatizando as relações de gênero, analisando o espaço da romaria como reprodução social do ideário de família patriarcal e de identidade de gênero feminina. O cenário da Pesquisa é a Romaria do Bom Jesus da Lapa, que se realiza há 323 anos, naquela cidade, localizada na região Oeste da Bahia. Os sujeitos da pesquisa são mulheres romeiras que se enquadram na faixa etária entre 50 e 70 anos de idade e participam, há mais de cinco anos consecutivos, da Romaria do Bom Jesus da Lapa, pertencentes a cinco Estados brasileiros (Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Goiás) que registram um maior índice de participação nesse evento religioso. Utilizamos como metodologia a pesquisa bibliográfica, qualitativa, de campo e documental e na coleta de dados; aplicamos como técnica a observação participante e a entrevista semiestruturada. Esta tese tem por objetivo geral analisar como se articulam, no espaço do catolicismo popular, e mais particularmente no espaço da romaria do Bom Jesus da Lapa, as mudanças socioculturais em curso na sociedade, as relações de gênero e a própria dinâmica do catolicismo. Dar-se-á ênfase aos impactos de tal articulação nas concepções e relações de gênero, ao interno da própria romaria e para além dela, nas relações cotidianas das mulheres em questão; à forma de inserção das mulheres nesse contexto, como as mulheres romeiras se situam (posicionam) em relação às mudanças socioculturais em curso, como as mulheres romeiras percebem o espaço da romaria, em relação ao seu cotidiano doméstico; ao desafio que se coloca aos referidos sujeitos, no sentido de que elas em alguns momentos se aproximam ou se distanciam da identidade de gênero oriunda da sociedade patriarcal, onde a submissão da mulher ao homem é uma característica determinante. A partir das falas das romeiras entrevistadas e dos aportes teóricos utilizados, concluímos que a Romaria do Bom Jesus da Lapa é um espaço de reprodução social da família e a identidade de gênero feminina, observando-se um contraste na ressignificação do papel e no perfil da mulher romeira do Bom Jesus da Lapa, alternando entre a permanência e a transformação da identidade de gênero oriunda do patriarcalismo.