Este artigo busca problematizar os sentidos ambivalentes do lugar da prostituição feminina a partir de pesquisas realizadas com jovens mulheres no interior da Paraíba (região do Litoral Norte e Brejo Paraibano), provenientes de famílias rurais. As trajetórias de vida dessas mulheres revelam um histórico familiar marcado por vários tipos de violência e diferentes estratégias de autonomia para superar essas experiências de privação, embora, muitas vezes, elas se repitam na relação com os cafetões e com os clientes. A prostituição é vista como uma estratégia de empoderamento em relação ao próprio corpo, ao domínio de práticas sexuais pouco convencionais e, ao mesmo tempo, como uma situação de passagem, encarada como um meio para construir projetos futuros, ao menos idealmente, fora da prostituição. Nossa pesquisa, de caráter socioantropológico, revela que os mecanismos para a aquisição de autonomia reproduzem um modelo de dominação e oferecem poucas possibilidades para que essas jovens resistam às normatividades e moralidades vigentes.
Ser, eu diria, não é estar em um lugar, mas estar ao longo de caminhos. O caminho, e não o lugar, é a condição primordial do ser, ou melhor, do tornar-se. Tim Ingold, Estar Vivo. 2015. Prelúdio Nos dias de hoje, o corpo se tornou símbolo de lutas políticas, sociais e simbólicas, que pode ser exaltado, agredido, intoxicado por bombas de gás lacrimogênio, encarcerado, e até mesmo vaiado e alvo de "memes". Corpos estão em evidência nos espaços públicos e estão marcados por posições políticas que devem ser visíveis na paisagem urbana e serem reconhecidas socialmente por meio de práticas corporais, além de diferenças de cor, geração, classe, gênero e orientação sexual. Esta visibilidade espalha-se pelas redes sociais, cujos selfies propagam-se compulsivamente nas passeatas e nos passeios. Ao longo dos últimos anos, muitas manifestações ocuparam as ruas das principais cidades brasileiras, em movimentos mais pendentes para a esquerda outros mais para a direita e mostraram, por meio dos corpos dos(as) manifestantes, quais eram as suas reivindicações. Uma camiseta vermelha pode significar o apoio ao Partido dos Trabalhadores e à (ex)presidenta Dilma, o que acarreta, certas vezes, agressões verbais e físicas em determinados contextos. Uma camiseta verde-amarela [da Confederação Brasileira de Futebol-CBF], que simbolizaria simplesmente torcer para a Seleção Brasileira durante a Copa do Mundo, hoje pode representar uma posição política e de classe, ainda que algumas vezes com imprecisões e indeterminações.
Este artigo oferece uma reflexão sobre a centralidade do corpo da antropóloga nas pesquisas de campo e sobre como esta centralidade afeta e produz a escrita etnográfica. Busca-se problematizar os sentidos e os efeitos da corporeidade para o fazer etnográfico e mostrar que a presença corporal e material das pesquisadoras em campo produzem lugares de fala específicos, que afetam os modos de ver, fazer, pensar e escrever antropologia. Por meio de uma certa perspectiva feminista, a intenção é refletir sobre o estado de corpo etnográfico, que se deixa marcar pela sua biografia, pelos contextos históricos, pelas escolhas teóricas e pelas interações nas experiências de campo, produzindo deslocamentos, diferenciações, exclusões, justaposições dos sentidos corpóreos da antropóloga, constantemente localizados na fronteira, entre-mundos.
Neste artigo, apresentamos resultados de uma pesquisa etnográfica, realizada entre 2008 e 2011, a respeito de trajetórias e sociabilidades de travestis, transexuais e transformistas na Paraíba. A investigação analisou circuitos que perpassam municípios em diferentes escalas, inclusive áreas rurais e indígenas, que se interconectam e criam rupturas: o da prostituição, o dos concursos de beleza (Miss Gay e Top Drag Queen) e o dos movimentos lgbts (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). Os concursos de beleza e as redes de prostituição conformam um conjunto que dá visibilidade a corpos e pessoas que realizam um jogo mimético com o feminino, onde a participação do público é essencial. Constroem-se modelos de beleza que se projetam em estilos metropolitanos e revelam uma feminilidade versátil, complementar à homossexualidade. Em contrapartida, as(os) atoras(os) do movimento lgbt procuram reagir a esses modelos de beleza mas acionam os circuitos dos concursos em ocasiões estratégicas, como as paradas gays, que têm se irradiado para o interior da Paraíba, da cidade para o campo.
O presente trabalho se insere na interseção entre os estudos de gênero e a antropologia urbana. A pesquisa etnográfica foi desenvolvida entre os anos de 2012 e 2014 na cidade de João Pessoa. No presente artigo buscamos apresentar agentes e espaços que compõem um circuito caracterizado pela busca de trocas eróticas e sexuais sem vínculos afetivos ou interesses financeiros entre homens que não necessariamente identificam a si mesmos como homossexuais: a pegação. A pesquisa aponta para relações de permeabilidade entre pessoas e lugares, bem como para processos de tensionamento de modelos identitários através de uma experiência marcada pela fluidez e a eventualidade, engendrando um contínuo processo de reinvenção do espaço e dos próprios envolvidos, ainda que submetida a mecanismos de controle social.
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