Este artigo traz uma análise diacrônica das construções com SE e verbo no infinitivo associando-a a mudanças paramétricas que ocorreram ao longo da história do português: as mudanças na posição do sujeito e no tipo de SE. O fenômeno, que foi considerado típico de uma gramática brasileira, é na verdade uma construção da gramática do Português Clássico (séculos 16 e 17). As diferenças encontradas entre o comportamento do fenômeno no Português Clássico, Português Europeu (a partir do século 18) e Português Brasileiro (textos de autores brasileiros nascidos a partir do século 19) foram analisadas como resultados de diferentes gramáticas.PALAVRAS-CHAVE: Construções com SE. Mudança linguística. Português Europeu. Português Brasileiro. Português Clássico.ABSTRACT This paper brings a diachronic analysis of SE constructions in infinitival clauses, as a result of parametric changes that occurred throughout the history of Portuguese: changes in the subject position and type of SE. The phenomenon, which was considered typical of a Brazilian Grammar, appears as a construction of Classical Portuguese (between 16th and 17th centuries). The observed different patterns of the phenomenon in Classical Portuguese, European Portuguese (from 18th century on) and Brazilian Portuguese (texts written by Brazilian born from the 19th century on) were analyzed as result of different grammars.KEYWORDS: SE-constructions. Diachronic syntax. Classical Portuguese. European Portuguese. Brazilian Portuguese.
Mudanças ocorridas no sistema pronominal do Português Brasileiro levaram a uma preferência pelo preenchimento do sujeito tanto de referência definida quanto arbitrária, como revelam pesquisas, como as de Duarte (1995, 2000). Há, por outro lado, uma redução no uso de clíticos em geral, inclusive o se de referência indeterminada nas sentenças finitas. Tal redução levou à preferência pelas formas pronominais plenas para todos os sujeitos referenciais, definidos e arbitrários (como você e a gente), mas permitiu, como já apontou Galves (1987), o aparecimento de um sujeito nulo indeterminado em sentenças finitas, construção não atestada no português europeu, ao lado do pronome se. Neste trabalho, apresento uma descrição do uso do sujeito nulo com referência indeterminada / arbitrária em dois estudos da mudança em tempo real de curta duração (Labov,1994), a partir de amostras da fala culta carioca -- NURC/RJ -- a fim de delimitar os contextos favorecedores desse sujeito nulo. Foram verificados tanto fatores lingüísticos -- como tipo de verbo, tempo verbal da sentença, presença de modalizadores --,quanto fatores extralingüísticos -- ano de gravação, idade do informante. Os resultados indicam que ocorre um aumento na preferência pela construção de sujeito nulo arbitrário na fala de informantes mais jovens e na amostra mais recente. Com relação aos fatores lingüísticos, destacam-se as sentenças genéricas ou habituais, com tempo verbal no presente ou imperfeito, e a presença de verbos modais como poder, dever.
ResumoNeste trabalho, apresentamos uma análise da posição do sujeito em cartas pessoais escritas por brasileiros nascidos entre o início do século XIX e meados do século XX a fim de verificar: (i) como se dá a diminuição da ordem VS ao longo do tempo; (ii) em quais contextos sintáticos o sujeito pós-verbal ocorre; (iii) como se pode relacionar essa mudança a um contexto de competição de gramáticas. Com relação ao item (iii), nossa pergunta principal está relacionada às gramáticas subjacentes que geram um sujeito pós-verbal: a ordem VS pode ser gerada por fatores de estrutura informacional (foco informacional, foco contrastivo), por condicionamentos sintáticos (interrogativas, subordinadas) ou pode ser remanescente em construções inacusativas e de inversão locativa (que são os casos encontrados em línguas como Francês ou Inglês). Isso pode se dever à mudança paramétrica que afeta o Português Brasileiro, um sistema caracterizado como de sujeito nulo parcial. Palavras-chave: Ordem VS; Estatuto informacional do sujeito; Competição de gramáticas; Mudança linguística; Português Brasileiro. 1 UFRJ/CNPq. AbstractIn this paper, I analyze the subject position in private letters written by Brazilian authors born between the 19 th and the 20 th Centuries in order to investigate (i) how the loss of VS across time can be described; (ii) in what syntactic environments VS is attested; (iii) how the loss of VS order can be related to a context of grammars in competition. With respect to (iii), our question is related to underlying grammars that generate a pre-verbal subject: VS order can be generated (A) by informational factors (informational and contrastive focus) and by syntactic factors (interrogatives and embedded clauses) or (B) it can be remnant in the system. The results show a picture of grammatical competition between: (A) a grammar that allows postverbal subjects due to information structure and grammatical constructions and (B) a grammar that does not allow postverbal subjects, but can exhibit such an order in unaccusative and locative inversion structures, which can be attested in French and English. This may be due to a parametric change that affects Brazilian Portuguese, a system that has been characterized as a partial null subject language.
Ao longo da história, as línguas mudam em todos os níveis da sua estrutura: vocabulário, fonologia, morfologia e sintaxe. Como e porque tal mudança ocorre constituem as questões-chave levantadas pela disciplina de linguística histórica. Sob a perspectiva da gramática gerativa atual, a mudança linguística é estreitamente condicionada pelo requerimento de que todas as línguas se adaptam a especificações da faculdade humana da linguagem; mas o fato de que a língua muda, assim como o fato bruto da diversidade estrutural das línguas do mundo, marca um limite para a especificação biológica da linguagem. A maior questão aberta da linguística teórica talvez seja quão extenso é o leque de variação biológica; mas, seja esse leque de variação qual for, ele é o campo onde os desenvolvimentos históricos ocorrem. A necessidade de uma GU ricamente especificada segue do problema lógico da aquisição da linguagem, de modo que o linguista sincrônico considere como análises candidatas somente aquelas que são aprendíveis e formuladas em teorias que especifiquem claramente o que existe para ser aprendido e o que está construído internamente. O estudo contemporâneo da mudança sintática, o assunto deste artigo, é geralmente formulado em termos do processo de aquisição; entretanto, como poderá ser visto, o estudo da diacronia adiciona complexidades da sua própria natureza.
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