Artigo recebido em 29 de fevereiro de 2016, versão final aceita em 28 de abril de 2016. RESUMO:A maioria dos estudos de cunho socioantropológico que versa sobre os efeitos socioambientais decorrentes da construção de grandes barragens dedica-se aos fenômenos que se verificam após o barramento do rio. Neste texto, a partir de pesquisa de campo realizada no contexto de construção de Belo Monte, pretendemos evidenciar como, do ponto de vista de quem os vivencia, os efeitos socioambientais do período pré-operação não são negligenciáveis e nem meramente transitórios. Durante a construção, o fluxo de máquinas, equipamentos e pessoas destinados à construção e seu entorno incide sobre territórios e recursos naturais que são condição para a reprodução social e econômica de povos e comunidades. O conhecimento tradicional acumulado faculta a apreensão de transformações sutis no ambiente, incluindo o comportamento de peixes e demais integrantes da fauna aquática, alterações na turbidez da água, na vegetação e outras, assim como mudanças nas relações sociais, incluindo restrições ao deslocamento de pessoas e de objetos. O gradiente de sua magnitude não pode estar fora do contexto no qual ocorre. Deveria ter como unidade de medida o sentido vivido. Dos pontos de vista institucional e político, é necessário que haja reconhecimento da epistemologia de produção e reprodução do conhecimento tradicional, com canais competentes para que as avaliações produzidas a partir dele sejam igualmente consideradas.Palavras-chave: barragem; Belo Monte; pescadores; efeitos ambientais. ABSTRACT:Most anthropological studies do not analyzes the environmental effects of the construction of large dams. In this text, from field research conducted in the Belo Monte construction context, we intend to show how, from the point of view of those who experience them, the social and environmental effects of the pre-operation period are not negligible or merely temporary. During construction, the flow of machines, equipment and personnel for the construction site and its surroundings focus on territories and natural resources that are condition for social Vol. 37, maio 2016, Edição Especial Nexo Água e Energia.
A fronteira hidrelétrica avança sobre a Amazônia com grandes obras como Santo Antonio e Jirau no rio Madeira e de maneira decisiva através dos projetos de Belo Monte proposto na Volta Grande do Xingu, licenciado em fevereiro de 2010, e de aproveitamentos no rio Tapajós. Contudo, os grandes projetos de infra-estrutura de geração de energia nesta região revelam confl itos, disputas políticas e econômicas que evidenciam risco aos processos de licenciamento ambiental, no processo de discussão de obras que envolvem bilhões de reais e consequências ambientais e sociais de grande envergadura. Alerta-se neste artigo à deslegitimação do discurso de grupos sociais que se opõem às políticas ofi ciais de desenvolvimento materializadas na duvidosa e polêmica usina de Belo Monte-PA, baseado na experiência da rede Painel de Especialistas constituído para análise crítica dos Estudos de Impacto Ambiental de Belo Monte e diversos segmentos da sociedade.
No presente ensaio propusemo-nos – face ao avanço dos grandes projetos de mineração – a fazer uma reflexão sobre a questão fundiária e os direitos territoriais das comunidades locais em Moçambique. A nossa reflexão encontra-se dividida em três pontos. No primeiro, buscamos fazer uma análise crítica do discurso de desenvolvimento, que norteia os grandes projetos de mineração em Moçambique, evidenciando com base nos estudos da Amazônia brasileira o lado obscuro do mesmo. No segundo nos ocupamos por uma análise meramente jurídica sobre as formas de apropriação do território em Moçambique. No terceiro discutimos a questão dos direitos territoriais das comunidades locais face aos deslocamentos compulsórios provocados por grandes projetos. Neste advogamos a necessidade de uma discussão “profunda” sobre os direitos territoriais das comunidades locais, face ao avanço dos grandes projetos, tendo em conta que os deslocamentos compulsórios não são, exclusivamente, um deslocamento espacial, mas também, dos vestígios que reforçam a memória coletiva e da história sociocultural dessas comunidades.
A primeira versão deste texto foi apresentada no 46º encontro da ANPOCS Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais -Lei 9610/98 RESUMO Objetivo: este estudo analisa as diversas formas de resistência, das mais cotidianas e silenciosas, até as mais espetaculares, que ribeirinhos e quilombolas manifestam contra a implantação do Terminal Portuário de Uso Privado Abaetetuba / Cargill. Métodos: Esta é uma pesquisa de tese de doutorado em curso, cujo de campo é realizado em duas Ilhas, Campompema e Xingu. Na primeira reside uma das autoras. A base metodológica desta pesquisa é a etnografia (e a autoetnografia). Resultados: O processo de resistência dos ribeirinhos abaetetubenses ocorre de diferentes formas, mas mantém um certo padrão ao longo do tempo, que se caracteriza pela agência de não humanos, como o caçador; e de microambientes, como o Pirí na centralidade da argumentação; pela manutenção do modo de vida; e por uma organização socioeconômica marcada pela pluriatividade. Além desta resistência que denominamos silenciosa, eclodem momentos espetaculares representados neste texto pelas mobilizações Grito das águas e Trancaço. Conclusão: O processo de resistência dos ribeirinhos abaetetubenses mantém um certo padrão ao longo do tempo, que se caracteriza pela observação e silêncio, manifestos na preservação de um modo de vida e de determinadas relações socioambientais. E pela emergência de momentos espetaculares que se caracterizam pela ênfase da agência de seres não humanos e de microambientes.
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