Em Belém do Pará predomina, com força ilocucionária crescente, o pressuposto de que somos uma cidade morena para um povo moreno. Esse pressuposto, fruto de um senso comum que busca classificar/categorizar as misturas étnico raciais produzidas desde o contexto colonial, tornou-se cada vez mais uma construção discursiva local para acomodar as diversas e muitas vezes opostas interpretações sobre nossa identidade. A análise aqui proposta, nos permite refletir sobre o construto da morenidade, essa violenta identificação mestiçada que por muito tempo tem sido apresentada como um traço cultural central da identidade da cidade, como uma construção discursiva local, uma representação de forte apelo sensório-visual, cuja interpretação histórico-cultural é, ao mesmo tempo, fruto de luta e negociação entre grupos e classes sociais, de resistência e imposição de forças em luta por classificação das alteridades produzidas a par das mestiçagens étnico raciais amazônicas.
Ser negra enquanto afirmação política de um corpo não é algo inato para quem vive a experiência de ser vista como tal, mas parte de um processo de identificação revestido de intencionalidade que objetiva uma existência não subordinada. Nosso objetivo nesse artigo é compreender de que forma a tipificação de si enquanto negra, a partir do evento de se atribuir esta identificação, instaura uma nova temporalidade na experiência vivida de mulheres negras, implicando em diferentes formas de tipificar o mundo da vida nas temporalidades anterior e posterior ao evento. Recorremos à metodologia etnográfica de abordagem fenomenológica para alcançar as estruturas presentes na consciência das mulheres negras interlocutoras desta pesquisa, uma vez que consciência compreende aspectos sensoriais e não sensoriais, como emoção, pensamento e memória.
Neste artigo, objetivamos compreender as influências dos processos de colonização na Amazônia brasileira nas identificações raciais de mulheres negras. A metodologia de pesquisa, baseada em etnografia de abordagem fenomenológica, permite pensar a influência colonial nos processos miscigenatórios e de classificação identificatória referente a questões de raça/cor explicitadas nos censos e na vida cotidiana. O artigo reflete sobre as maneiras como a negritude amazônida é muitas vezes invisibilizada e questionada na região, partindo da crença na existência de uma morenidade local, e fora da região, por não amazônidas que por vezes compartilham, no encontro, a frustração com as expectativas criadas por uma representação do que é Amazônia e isso contribui para a deslegitimação da identificação racial da população negra daqui, que, por entender sua diferença também no âmbito regional, inclusive na maneira como a morenidade tem força enquanto discurso local, prefere uma classificação identificatória híbrida, um ser afroamazônida.
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