A partir do “caso Ferenczi”, como identificado em um texto de sua paciente/analista, Elizabeth Severn, o artigo apresenta e desenvolve três questões pertinentes à psicanálise contemporânea: uma crítica à ênfase na leitura diagnóstica, em especial quando normatizadora; a criação de espaços intersubjetivos em análise, e sua dimensão potencial; e a maneira como a “loucura”, uma vez compartilhada, é psiquicamente mobilizadora e permite a emergência de conteúdos relevantes tanto para o paciente como para o analista. Discute-se se possibilidade de adotar uma posição não normativa frente aos elementos disruptivos do psiquismo do outro não seria, ao menos em parte, resultado da capacidade do analista em transitar por entre fragmentos de seu próprio psiquismo.
A partir de questões suscitadas pela recente tradução de Renato Zwick do texto “Hemmung, Symptom und Angst” para “Inibição, sintoma e medo” (Freud, 1926/2016), o objetivo deste artigo é assinalar duas dimensões da Angst que não correspondem a uma mesma palavra em português. Após um apanhado teórico dos principais textos de Freud sobre o assunto, discute-se o transtorno de pânico, no campo da psicopatologia e clínica contemporânea, enfatizando essas duas dimensões afetivas.
It's the intention of this article, based on questions raised by the film Synecdoche, New York (2008), to discuss the articulation of hypochondriacal anxiety with temporality. It is noteworthy that the flashback feature is not used in the film; temporality, presented in light of the anxiety related to the hypochondriacal symptoms of the character, is fixed in an absolute present. Freud considered Hypochondria to be an actual neurosis and the anxiety articulated with it operates as an affective counterpart to the encounter with helplessness generated by the fragmentation of body image. We are, therefore, before the traumatic face of this affection that would once again be discussed, in the context of traumatic neurosis and through the concept of automatic anxiety, in 1926. Since then, the issue of the actuality of the symptoms, as indicated in the actual neurosis, gains a new meaning: it is a problem that could not be represented and therefore persists, establishing an eternal recurrence of the present.
A publicação do DMS-5 em 2013, embora marcada por uma série de críticas, introduziu um novo capítulo, intitulado de “Transtornos do Neurodesenvolvimento”, que foi recebido como uma espécie de promessa da psiquiatria contemporânea. A lógica mais ampla articulada a este grupo diagnóstico, ao abarcar uma série de quadros iniciados na infância sob a égide de uma etiopatogênese ligada ao desenvolvimento neuronal, aponta para novos direcionamentos no campo da psiquiatria, tal como o projeto Rdoc. O objetivo deste artigo é apresentar, por meio de bibliografia selecionada, a perspectiva neurodesenvolvimentista articulada à ascensão dos “Transtornos do Neurodesenvolvimento”, procurando traçar correlações com os fenômenos da neurocultura, neuroidentidades e neurodiversidade, bem como identificar as noções de normalidade e patologia implícitas nesta lógica. Ademais, aponta-se algumas consequências desse paradigma no âmbito da infância e da educação. Pode-se perceber que os ideais sociais ligados às noções de competência e agência têm reconfigurado a percepção da infância contemporânea, associando-a a valores como autonomia e adaptabilidade, tornando a distinção entre crianças e adultos menos marcada. Estes valores estão em sintonia com a noção de neurodesenvolvimento, na medida em que ambos implicam uma trajetória de constante mudança, reconfiguração e aprendizagem ao longo da vida. O campo da educação é afetado por essa discussão, sendo invadido por metáforas cerebrais em torno da neuroplasticidade que, associadas à ênfase no empreendedorismo e do manejo de riscos, levam a deslocamentos na identidade da criança e do adolescente contemporâneos.
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