O presente artigo traz alguns dos resultados de uma investigação cujo desenvolvimento da etapa inicial se deu com oito estudantes do nono ano do Ensino Fundamental e do primeiro ano do Ensino Médio, participantes de um curso preparatório para ingresso no Instituto Federal de Minas Gerais. Tal trabalho é parte do projeto de pesquisa intitulado “Onde aprendemos a viver o gênero? Nas aulas de matemática!”. Neste recorte, o objetivo foi compreender como estudantes da Educação Básica entendem, vivenciam e experienciam as questões de gênero no seu cotidiano (escolar, mas não só), especialmente em suas relações com a matemática enquanto ciência. Os resultados aqui apresentados são fruto de duas reuniões realizadas de forma virtual devido à pandemia da Covid-19. Buscando sustentação nas teorizações pós-coloniais, a questão “o que a matemática tem a ver com as questões de gênero?” abriu as reuniões e conduziu a seleção de materiais que tinham o papel de disparar as discussões, tais como notícias que circulam nas mídias, resultados de pesquisa apresentados em diversos relatórios que tratam da temática e vídeos institucionais que abordam os assuntos pertinentes ao desenvolvimento da investigação. Todo o trabalho de construção e tratamento dos dados foi realizado à luz da análise do discurso foucaultiana. Neste texto, serão apresentados dois enunciados, quais sejam: “a contribuição [invisível] de mulheres para o desenvolvimento da sociedade” e “mulheres não gostam de matemática”. Ambos os enunciados foram tratados a partir de uma compreensão de gênero como discursivamente produzido, num entendimento butleriano do termo e da matemática escolar como política cultural. Tal pesquisa, de cunho qualitativo, revelou que as performances de gênero são ainda marcadamente estereotipadas nas vivências dos estudantes, ao mesmo tempo em que há um processo ascendente de engajamento e questionamento dos espaços aos quais os corpos que performam o feminino podem, ou não, ocupar, espaços em que predomina o conhecimento matemático, por exemplo. Portanto, esses espaços são problematizados pelos estudantes participantes da pesquisa, esgarçando a fronteira entre os saberes.
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