Recebido em 28/11/06; aceito em 30/11/07; publicado na web em 11/9/08 LOCAL ANESTHETICS: INTERACTION WITH BIOLOGICAL MEMBRANES AND WITH THE VOLTAGE-GATED SODIUM CHANNEL. Many theories about the mechanism of action of local anesthetics (LA) are described in the literature. Two types of theories can be distinguished: those that focus on the direct effects of LA on their target protein in the axon membranes, i.e. the voltage-gated sodium channel and the ones that take into account the interaction of anesthetic molecules with the lipid membrane phase for the reversible nerve blockage. Since there is a direct correlation between LA hydrophobicity and potency, it is crucial to take this physico-chemical property into account to understand the mechanism of action of LA, be it on the sodium channel protein, lipid(s), or on the whole membrane phase.Keywords: local anesthetic; membrane; voltage-gated sodium channel.
introdUçãoAnestésicos locais (AL) compreendem um grande número de moléculas, de diferentes estruturas químicas, como amino-ésteres, amino-amidas, amino-cetonas, amidas, álcoois, tio-ésteres, tioamidas, derivados de uréia, poliéteres, 1 derivados de monoterpenos do carano 2 etc, capazes de bloquear reversivelmente a condução do estímulo nervoso.As ações estimulatórias e euforizantes da cocaína, presente em grandes quantidades nas folhas de Erythroxylon coca, são conhecidas há séculos pelos povos andinos. Mas foi somente em 1860 que a cocaína foi isolada pela primeira vez por Albert Niemann, que constatou que a mesma causava entorpecimento da língua. As propriedades anestésicas da cocaína levaram à sua classificação como o primeiro anestésico de ação local. Em 1884, Carl Koller introduziu a cocaína na prática clínica como um anestésico para cirurgia oftalmológica 3 e até o início do século XX era possível encontrar produtos cujo princípio ativo era a cocaína (Figura 1). Experiências posteriores, realizadas por Sigmund Freud e outros, demonstraram o grande potencial para desenvolvimento de dependência química, o que levou à proibição do uso da cocaína em 1914.Diferentes AL utilizados atualmente na clínica originam-se dessas primeiras observações clínicas.4,5 A tentativa de diminuir o potencial tóxico da cocaína levou ao desenvolvimento de análogos sintéticos e, em 1890, sintetizou-se a benzocaína, um éster derivado do ácido benzóico, assim como a cocaína. Mas foi em 1904 que apareceu o primeiro AL sintético com potencial uso infiltrativo, a procaína, que se tornou o protótipo dos AL durante quase meio século.6 Outros derivados do ácido para-amino benzóico, como a procaína, foram sintetizados depois e mostraram-se mais potentes (tetracaína) e menos tóxicos (clorprocaína) que a mesma (Tabela 1).A toxicidade de metabólitos do ácido para-amino benzóico 7 e a rápida metabolização da ligação éster por esterases plasmáticas limitavam o uso dos amino-ésteres, o que impulsionou a busca de novos compostos com atividade anestésica, levando à síntese dos AL tipo amino-amida, a partir de 1943 (Tabela 1), os quais atualmente s...