Este artigo considera que os dicionários escolares (avaliados, selecionados e distribuídos pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático - PNLD) funcionam como parte do saber/fazer a língua, produzindo a divisão social do trabalho de leitura (PÊCHEUX, [1982] 1990), bem como dão a conhecer uma “parcela de língua” (PETRI; MEDEIROS, 2013) quando determinam qual parte da língua será acessada pelas crianças em idade escolar e qual parte não estará disponível a elas, haja vista que o PNLD delimita o número de verbetes que compõem o dicionário escolar. Dessa forma, inscritas na perspectiva da Análise de Discurso pecheuxtiana articulada com a História das Ideias Linguísticas, problematizamos o funcionamento ideológico da divisão social do trabalho de leitura em um corpus composto de quatro dicionários escolares de Língua Portuguesa – Dicionário Escolar da Língua Portuguesa (BUENO, 1970); Dicionário Didático de Português (BIDERMAN, 1998); Meu primeiro livro de palavras (BIDERMAN; CARVALHO, 2005); e Meu Primeiro Dicionário Caldas Aulete (GEIGER, 2011) –, dos quais recortamos os verbetes “amizade”, “namoro” e “casamento”. As análises indicam os direcionamentos de sentidos que a presença e a ausência de verbetes no dicionário podem promover no ensino de língua.